Trabalho final - Marcos Buiati

Metodologia de Pesquisa em Artes Cênicas 
Revisão do projeto de pesquisa 
Discente/Doutorando: Marcos Buiati 
Orientadora: Alice Stefânia Curi 

questões introdutórias 
    O projeto de pesquisa apresentado na seleção para o doutorado em artes cênicas — O monstro, o labirinto e a criação em dança contemporânea — versa sobre a criação em dança contemporânea no tensionamento com a teoria da monstruosidade e a literatura. Intenta-se desenvolver um procedimento de criação a partir da figura do monstro como operador prático- teórico, e do labirinto como referência metodológica. A proposta é fruto de outro projeto de pesquisa, desde 2017 no Instituto Federal de Brasília — onde sou docente, com grupo de estudantes da licenciatura em dança e artistas da comunidade externa. Após 3 anos de investigação, chegou-se em 2019 na construção do espetáculo “O Fio de Minos”, baseado no conto “A casa de Astérion” do escritor argentino Jorge Luiz Borges, de onde partiu a proposição de aprofundamento da pesquisa, a nível de doutorado, iniciada em 2020. 
    Em linhas gerais, os problemas de pesquisa levantados nessa fase prévia, apontam para uma necessidade de entendimento da monstruosidade como catalisadora de processos criativos. Algumas perguntas norteadoras que se apresentaram foram: como a presença do monstro interferia nos procedimentos de preparação técnico-expressiva e de criação em dança contemporânea já propostos? Poderia essa presença potencializar a experiência do dançarino de modo a provocar uma dramaturgia corporal com novas possibilidades cênicas? Como propor um procedimento de criação em artes cênicas que se situa, como o monstro, nesse lugar híbrido, no trânsito entre o treinamento/ criação em dança contemporânea, a teoria da monstruosidade na cultura e a literatura? Como se dariam as relações de subjetivação no tensionamento da produção do corpo cênico em contágio com a experiência do corpo monstro? Como os monstros se manifestam na contemporaneidade e quais seriam as suas relações com a dança e as artes cênicas? 
    Interessa-me portanto investigar os tensionamentos criativos entre o treinamento, a monstruosidade e a construção do corpo cênico e como esse processo deságua em processos de subjetivação em dança. O eixo condutor da continuação da pesquisa no doutorado será um novo processo de criação onde deverão ser investigadas as hipóteses levantadas previamente no projeto, a saber: 
  1. o devir-monstro (GIL, 2000), presente tanto na preparação técnico-expressiva, nos laboratórios de improvisação/composição quanto no texto literário, como catalisador, poderia despertar estados de alteração do corpo cênico (CURI, 2015); 
  2. as intensidades corporais (CAETANO, 2012) de criação se potencializariam então a partir do devir-monstro gerando primeiramente um outro estranho de si mesmo (JUNIOR, 2010, p. 183) mas também um devir-outro como potência da experiência de alteridade, seja com os colegas de investigação imersos em um meio ambiente de criação, seja com espectadores, quando da apresentação das obras; 
  3. nessa intersecção do devir-monstro, haveria então o potencial de abertura de fissuras das quais emergem possibilidades de criação de outras potências dramatúrgicas e cênicas além de outras possibilidade ético-estéticas de relação consigo próprio e com o outro; 
  4. ao interferir na construção do corpo cênico, o devir-monstro influenciaria também nos processos de subjetivação contemporâneos via movimento (SANDER, 2006); 
  5. os procedimentos de criação via corpo monstro proporcionariam possibilidades de desestabilização/potencialização do sujeito, permitindo uma compreensão mais aprofundada da relação corpo-cultura-subjetividade (SANDER, 2006) quando mediada por processos criativos em dança; 
  6. em função da obra de Jorge Luís Borges, esboçaria-se também uma abordagem metodológica labiríntica para a criação, em diálogo com o treinamento; 
  7. para todo ato criador seria necessário o monstro, o estranho, que habita primeiramente o centro de cada labirinto individual que é o próprio sujeito, e posteriormente o outro em experiência de alteridade com o coletivo, onde o monstro seria, nessa hipótese, imprescindível para a criação e não se criaria assim, sem um inquietante.
    Por fim, a tese que por ora se apresenta é a de que o corpo monstro e o labirinto como operadores prático-teórico-metodológicos em processos de criação em artes cênicas, potencializam a preparação técnico-expressiva do artista cênico, os processos de composição/dramaturgia em dança contemporânea e as possibilidades de subjetivação através do movimento. 

questões bibliográficas 
    A partir do aprofundamento bibliográfico ao longo do primeiro semestre e das discussões e novas ferramentas de busca e análise de teses/dissertações apresentadas na componente de Metodologia de Pesquisa em Artes Cênicas, as referências bibliográficas iniciais apresentadas sofreram uma modificação mediana.
    Inicialmente, o projeto reunia referências iniciais em torno de alguns eixos: 
  • Eixo 1 - monstruosidade (teoria do corpo, cultura, história, antropologia, literatura, cinema etc.); 
  • Eixo 2 - dramaturgia, composição, criação e corpo cênico; 
  • Eixo 3 - dança, processos de subjetivação e psicologia;
  • Eixo 4 - dança, educação somática e treinamento do intérprete; 
  • Eixo 5 - dança, literatura e tradução intersemiótica. 
    O que observo é que ao longo do semestre, a partir do aprofundamento de leituras, reuniões de orientação/grupo de pesquisa e também experiência em outras componentes, o foco conceitual foi se fortalecendo nos quatro primeiros eixos e o eixo 5 — na relação entre dança e tradução intersemiótica principalmente —, foi se enfraquecendo por conta do afunilamento do recorte. 
    A relação com a literatura se sustentou mais em torno da obra dos artistas referenciados para a pesquisa (Borges e Cortázar) em função do minotauro e do labirinto, e também da relação do corpo e literatura como escritura/inscrição, e menos nas teorias de tradução e de inter-semioticidade entre linguagens. As relações entre dança e literatura, a nível de tradução, não se firmaram então como subtema imprescindível para o trabalho. Assim, as referências do eixo 5 foram por ora colocadas em último grau de relevância para a continuação da pesquisa e não estão listadas neste trabalho. 
    Um ponto que clareou bastante, partindo da constatação de que meu tema é a monstruosidade e que o meu problema é a relação desta com a dança, foi a necessidade de mergulhar na bibliografia sobre monstros, toda ela que eu conseguir encontrar: na teoria do corpo, na cultura, na história, na antropologia, na sociologia, na literatura, no cinema etc., para só então entender se o recorte se firmará na questão da dança com literatura, na relação da dança com subjetivação, ou na criação etc. Impõe-se portanto que o levantamento do estado da arte sobre o tema — monstro — precisa ser realizado. 
    A partir da componente de metodologia, houve então uma ampliação das referências dos eixos 1, 2, 3 e 4 e também uma reorganização das prioridades de leituras das dissertações, teses e livros elencados. Segue a lista das referências (somente teses, dissertações e artigos) atualizadas e reestruturadas ao longo do semestre a partir das ferramentas de busca e repositórios: 
  1. ALMEIDA, Karina. A composição como decomposição - um olhar sobre a criação em dança. 
  2. ALMEIDA, Karina. Entre-territórios: a dança como catalisadora de diferentes noções de composição.
  3. ASSUNÇÃO, Diego Paleólogo. A máquina de fabricar vampiros: tecnologias da morte, do sangue e do sexo.
  4. ASSUNÇÃO, Diego. O labirinto contemporâneo: a experiência do Minotauro em Borges e Cortázar. 
  5. ASSUNÇÃO, Diego Paleólogo. Produção de Alteridade: a experiência do Minotauro. 
  6. AURICH, Amerian. A construção do monstro e da monstruosidade: uma análise dos personagens de Guillermo Del Toro. 
  7. BEARLZ, Érica. Poética ponderal da montanha - uma proposta de sistematização composicional em dança. 
  8. BÊNIA, Raquel Ghetti. A angústia na clínica psicanalítica: da constituição subjetiva às soluções singulares. 
  9. BERTIN, Juliana. O monstro invisível - o abalo das fronteiras entre monstruosidade e humanidade. 
  10. BEZERRA, Laise. A dança dos monstros: corpo e estética na arte e na educação física. 
  11. BOFF, Angélica. Debussy, Nijinsky e um Fauno - a ruptura de uma estética e de um conceito. 
  12. BOLSANELLO, Débora. Educação somática - o corpo enquanto experiência. 
  13. BRANDÃO, Verônica. O monstro, o cinema e o medo ao estranho. 
  14. CAETANO, Patricia. O corpo intenso nas artes cênicas/ procedimentos para o corpo sem órgãos a partir dos Bartenieff Fundamentals e do Body Mind Centering. 
  15. CARVALHO, Edilson. O funâmbulo - um trajeto percorrido entre texto literário e dança. 
  16. CORREIA, Heloísa. Ensaio com monstros do mundo e do pensamento criados por Borges. 
  17. COSTA FILHO, Francisco. A estética do grotesco como meio para potencializar a expressivdade no corpo cênico. 
  18. COSTA FILHO, Francisco. O grotesco como categoria estética - discussões conceituais. 
  19. CURI, Alice. Dramaturgias de ator - puxando fios de uma trama espessa. 
  20. CURI, Alice. Por uma tao expressividade: processos criativos em trânsito com matrizes taoístas. 
  21. DADALTO, Weverson. O minotauro e seu labirinto. 
  22. DUARTE, Márcia. Olhos de Touro - Um caminho de criação. 
  23. DUARTE, Márcia. Quando a dança é o jogo e o intérprete é jogador. 
  24. FAUSTINO, Diógenes; FALEK, Jussara. A originalidade e a origem do estádio do espelho em Lacan. 
  25. FERNANDES, Ciane. Em busca da escrita com dança. 
  26. FERNANDES, Ciane. Princípios em movimento na pesquisa somático-performativa. 
  27. FRANÇA, Julio. As relações entre "mosntruosidade" e "medo estético": anotações para uma ontologia dos monstros na narrativa ficcional brasileira. 
  28. GARCIA, Maria. Monstros: a ciência do mito e a sua utilidade nos videojogos. 
  29. GREEN, Jill. Coreografando uma virada pós-moderna: o processo criativo e a somática. 
  30. GREEN, Jill. Foucault and the Training of Docile Bodies in Dance Education. 
  31. GREEN, Jill. Somatic Authority and the Myth of the Ideal Body in Dance Education. 
  32. HASEMAN, Brad. Manifesto pela pesquisa performativa. 
  33. HISSA, Cássio; RIBEIRO, Mônica. Saber sentido. 
  34. JAUDY, Fuad. Faces da monstruosidade. 
  35. JUNIOR, Carlos. O corpo e o devir-monstro. 
  36. JUNIOR, Carlos. Sobre corpos e monstros - algumas reflexões contemporâneas a partir da filosofia da diferença. 
  37. JUNIOR, Manoel; SOARES, Cecilia. Devir-monstro, devir-homem. 
  38. LAMBERT, Marisa. Expressividade Cênica Pelo Fluxo Percepção-Ação - O sistema Laban/ Bartenieff no desenvolvimento somático e na criação em dança. 
  39. LEITE, Nícolas. As faces de minotauro. 
  40. LEPECKI, André. 9 variações sobre coisas e performance. 
  41. LEPECKI, André. Coreopolítica e coreopolícia. 
  42. LEPECKI, André. Inscrever a dança. 
  43. LEPECKI, André. Permissão para dançar. 
  44. LEPECKI, André. Tecido Afetivo. 
  45. MACEDO, Deborah. O conhecer em movimento a partir da cocriação sensível - uma abordagem experiencial para a dança. 
  46. MARCILIO, Vieira. Dramaturgia do corpo que se move. 
  47. MOREIRA, Laura. Dramaturgias contemporâneas - as transformações do conceito de dramaturgia e suas implicações. 
  48. PAIVA, Roberta. Sintonia entre as artes - a figura do fauno da Antiguidade para a Modernidade via Mallarmé, Manet e Nijinsky. 
  49. PAULINO, Leonardo. Bem-me-queer - performance e poéticas da diferença. 
  50. PEIXOTO JUNIOR, Carlos. Permanecendo no próprio ser: a potência de corpos e afetos em Espinosa. 
  51. PEIXOTO JUNIOR, Carlos. Sobre a importancia do corpo para a continuidade do ser. 
  52. PREUSSLER, Roberta. Autoficção como potência cênica: prática como investigação a partir do espetáculo Abstinência de Purpurina. 
  53. QUINTEIRO, Sílvia. Processos de construção da figura monstruosa. 
  54. ROCHA, Thereza. Por uma (des)ontologia da dança em sua (eterna) contemporaneidade. 
  55. SANDER, Jardel. Camelos também Dançam. Movimento corporal e processos de subjetivação contemporâneos: um olhar através da dança. 
  56. SANDER, Jardel. Corporeidades contemporâneas - do corpo-imagem ao corpo-devir. 
  57. SILVA, Fernando Manuel. Da literatura, do corpo e do corpo na literatura - Derrida, Deleuze e monstros do Renascimento. 
  58. SILVA, Fernando Manuel. Um corpo para a vida: Estudo para uma teoria do corpo e o trabalho do actor a partir de Michel Foucault e Gilles Deleuze. 
  59. TAVARES, Enéias; MATANGRANO, Bruno. A humanização do monstro no seriado televisivo Penny Dreadful. 
  60. TONEZZI, José. A cena contaminada, um teatro das disfunções. 
  61. TONEZZI, José. Cena e contágio - o caso da companhia de arte Intrusa. 
  62. TOURINHO, Lígia; SOUZA, Maria. A preparação corporal para a cena como evocação de potências para o processo de criação. 
  63. TOURINHO, Lígia. Dramaturgias do corpo - protocolos de criação das artes da cena. 
  64. VILAS-BOAS, Gonçalo. O minotauro e os labirintos contemporâneos. 
questões metodológicas 
    O maior ganho da componente de metodologia se deu no bloco de discussões sobre análise de processos criativos. Como o meu projeto parte de um processo de criação já realizado e propõe um processo de criação novo, a re-contextualização das ferramentas metodológicas de construção e análise de processo criativo foram de extrema importância para o aperfeiçoamento da metodologia proposta. Muitas ferramentas que eu já utilizava, por exemplo o registro videográfico dos ensaios e a produção de diários de bordo, geravam dados que não eram processados ou sistematizados posteriormente. 
    A base da metodologia proposta no projeto já era, portanto, ancorada na práxis artística, com uma concomitante fase teórico-instrumental. Há também o desafio de se investigar o que viria a ser uma proposta de criação labiríntica/monstruosa e se será possível sistematizar procedimentos para a práxis artística nesse caminho. Essa práxis será mediada teoricamente pelas considerações da pesquisa performativa (HASEMAN, 2015), como alternativa para os paradigmas quantitativos/ qualitativos tradicionais, indo ao encontro do paradigma pós-positivista de pesquisa em arte e da prática como pesquisa (FERNANDES, 2013; GREEN, 2018). Segundo Ciane Fernandes: 

na pesquisa pós-positivista, uma variedade de possibilidades de escrita incluem a autobiografia, o conto, a justaposição da obra de arte, diários, poesias etc., tornando a pesquisa compatível com a dança. Já as pesquisas com prática artística não são apenas compatíveis com a arte: elas nascem da arte, de seus modos particulares e únicos de articular, relacionar diferenças e criar conhecimento.” (FERNANDES, 2013, p. 23) 

    Outro ponto importante de se discutir foi a necessidade de adaptação do processo criativo, que já estava previsto no cronograma desde o primeiro semestre da pesquisa, para os meios digitais por conta da impossibilidade de encontros presenciais devido a pandemia de COVID-19. Os encontros com o grupo de artistas que participam da montagem se iniciaram portanto por meio virtual, através de vídeo-chamadas, com propostas adaptadas à esse formato. 
    Partindo então de uma metodologia da práxis, do fazer-saber-sentido (HISSA, RIBEIRO, 2017), entende-se que, especialmente na criação de obras artísticas, o processo de investigação é que vai muitas vezes produzindo o método, e não o contrário (FERNANDES, 2013, p. 23). Por outro lado, essa lógica não deve mergulhar a pesquisa em uma pessoalidade subjetiva sem contato com o mundo externo, para que “a abordagem não se torne demasiadamente autocentrada e perca a(s) referência(s), a relevância e o reconhecimento no contexto mais abrangente da pesquisa (Ibid. p. 27). 
    Nesse sentido, a prática artística e a produção do espetáculo devem buscar responder ao problema de pesquisa delimitado no recorte, de modo a não se tornar uma investigação puramente intuitiva. É preciso caminhar na pesquisa do íntimo privado, para o público, “do ôntico para o ontológico, do empírico para o transcendental, do particular para o universal, do contingente para o necessário” (FEITOSA, 2012, p. 59), enfim, partir do gesto autobiográfico para a obra de arte. 
    A partir da discussões na componente, a metodologia também se redimensionou retrospectivamente, umas vez que se mostrou oportuno fazer um levantamento de dados mais pormenorizados do espetáculo que gerou a proposta, já que algumas fases de pesquisa não foram realizadas naquele projeto, por exemplo, a realização de entrevistas. 
    Nesse sentido, o objeto de pesquisa será investigado a partir de 4 grandes eixos metodológicos: 
  1. análise retrospectiva do processo de criação do espetáculo “O Fio de Minos” (2019)
    1. realização de entrevistas com participantes 
  2. realização do novo processo criativo “O Inquietante” (início em 2020) 
    1. registro videográfico dos encontros 
    2. produção de diário de bordo em blog 
    3. realização de entrevistas com participantes do processo 
    4. sistematização dos materiais gerados 
  3. pesquisa bibliográfica
  4. análise do processo criativo 
    Esses eixos de desdobram em ações mais detalhadas, com ferramentas metodológicas organizadas a partir de duas frentes de trabalho que se comunicam e se articulam mutuamente. São elas: 

    Frente 1 — pesquisa prática artística: se realizará na instituição onde sou docente, com grupo de estudos que já coordeno desde 2017. O grupo é composto por estudantes da licenciatura em dança e por integrantes da comunidade externa e já tem uma rotina de trabalho em torno de 12 horas semanais, com possibilidade de ampliação para até 20 horas/semana. Essa frente envolve: 
  • etapa 1.1: preparo técnico-expressivo do dançarino — aulas, vivências e exercícios a partir dos Fundamentos Bartenieff —, além de improvisações, laboratórios de criação cênica e pesquisa de movimentação a partir do corpo monstro como operador teórico-prático; reflexão, interpretação e organização coletiva do conhecimento prático produzido, através de exposições orais, debates, além da organização, análise, interpretação e sistematização desses materiais; 
  • etapa 1.2: composição cênica e estruturação dramatúrgica para construção do espetáculo objeto dessa pesquisa. 
    Frente 2 — teórico-conceitual. Em termos instrumentais contemplará: 
  • etapa 2.1: aprofundamento de teorias e conceitos a partir de revisão bibliográfica; organização, análise, interpretação e sistematização dos dados, via resumos, fichamentos e mapas mentais; grupo de estudos com participantes do processo de criação; 
  • etapa 2.2: coleta de dados com participantes da pesquisa através de entrevistas, registro de fluxos de pensamento após laboratórios de criação, produção de diários de bordo e registros audiovisuais, com posterior organização, análise, interpretação e sistematização dos dados. 

Cronograma atualizado em novembro/2020:

Atividade/Período

Ano 1*

Ano 2

Ano 3

Ano 4

2020.2

2021.1

2021.2

2022.1

2022.2

2023.1

2023.2

2024.1

Etapa 1.1: preparo técnico-expressivo, improvisações, laboratórios de criação

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Etapa 1.2: estruturação do espetáculo objeto da tese

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Etapa 2.1: Aprofundamento teórico conceitual e bibliografia da tese

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Etapa 2.2: Coleta de dados com participantes do processo de pesquisa

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Cumprimento das disciplinas obrigatórias e eletivas na pós-graduação

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Elaboração de relatório parcial - texto para exame de qualificação

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Exame de qualificação

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Elaboração de relatório final - texto da tese

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Defesa da tese

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Revisão e correções do texto após defesa

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Participação em grupo de pesquisa PPGCEN

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Reuniões sistemáticas com orientadora

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*adaptado para formato remoto via vídeo chamada 

    Ao longo do semestre também foi esboçada uma nova proposta de título e uma possível estruturação da tese em torno de capítulos principais: 

Título: O inquietante: corpo monstro e processos de subjetivação em dança contemporânea. 
Capítulo Y - Genealogia do monstro (na história, na antropologia, na literatura e) na dança.
Capítulo X - A monstruosidade e a construção identitária dos outros corpos abjetos (nacionalismos, modernidades e modernismos, racismos, xenofobias, estrangeirismos, hibridismos, misoginias, transfobias, homofobias e etcs.) 
Capítulo W - A escrita monstrobiográfica e a construção do outro de si. (Sobre essas desgastadas discussões sobre criação e auto biografia)
Capítulo Z - O processo de criação do espetáculo “O inquietante”. 

questões inquietantes 
    Ainda tenho a sensação de que o recorte da pesquisa está um pouco amplo. Abarco na proposta grandes temas de investigação, com muita densidade teórica que, possivelmente demandarão grande aprofundamento e que, ainda, não é nítido se todos deverão ser abarcados na pesquisa. Esses grandes temas são: 
  • Corpo, cultura e antropologia,
  • Arte e processos de subjetivação,
  • Treinamento do artista cênico,
  • Criação, composição e dramaturgia em dança,
  • Literatura e dança, tradução intersemiótica.
    Me parece que a tese poderia se afunilar em qualquer um desses grandes temas, não necessariamente trazendo todos para um mesmo tempo de investigação.
    Outro ponto que me inquieta muito é a questão da literatura: se as obras es presenças monstruosas nos textos funcionarão apenas como recursos imagéticos, gatilhos para a investigação criativa, ou se eu devo me debruçar de maneira mais robusta acerca da teoria literária e sua relação com as corporeidades e dramaturgias cênicas. 
    A questão da auto biografia, relação autor-vida-obra artística também tem me trazido muito incômodo. Apesar de eu ter proposto no projeto uma pesquisa que parte da perspectiva da “escrita de si”, após aprofundamento das leituras, discussões na componente de metodologia e da experiência na componente realizada com a prof. Beth Lopes (Corporeidades, memórias e performance), essa abordagem tem me trazido muitas dúvidas e receios, especialmente acerca de suas implicações éticas. Qual é esse conceito de escrita que proponho? O que é esse conceito de escrita? Que noção é essa de escrita que pretendo usar? Corpo como escrita? Que escrita? Escrita de si? Que si? Não seria corpo como corpo? E não como escrita? 
    Estou também bastante ansioso e em conflito por conta da adaptação do processo de criação para os meios remotos mediados por tecnologia. Por conta da pandemia, há uma grande incerteza acerca de quando se poderá voltar aos encontros presenciais e, ainda, não vejo como possibilidade a substituição do processo criativo do modo presencial para o virtual. Isso tem gerado muito desgaste e dificuldades de reestruturação do cronograma. 
   Por fim, devido a novas influências da linha de pesquisa do programa, ainda não é muito claro se devo manter o recorte da pesquisa em torno do conceito de “dança contemporânea”, que é minha área de formação/atuação/pesquisa artística, ou se amplio o escopo da proposta da tese para “artes cênicas” abarcando assim não só o dançarino/bailarino mas o atuante, ator, artista cênico.

referências 

CAETANO, Patricia. O corpo intenso nas artes cênicas: procedimentos para o corpo sem órgãos a partir dos Bartenieff Fundamentals e do Body Mind Centering. Tese (doutorado). UFBA, 2012. 

CURI, Alice Stefânia. Corpos e Sentidos. In: ALMEIDA, Marcia (Org). A cena em foco: artes coreográficas em tempos líquidos. Brasília, Editora IFB, 2015. 

FEITOSA, Charles. Labirintos: corpo e memória nos textos autobiográficos de Nietzsche. In.: LINS, Daniel. GADELHA, Sylvio. (Org.) Nietzsche e Deleuze: o que pode o corpo. Rio de Janeiro, Relume Dumará, Fortaleza, Secretaria da Cultura e Desporto, 2002. 

FERNANDES, Ciane. Em busca da escrita com dança: algumas abordagens metodológicas de pesquisa com prática artística. Dança, Salvador, v. 2, n. 2, p. 18-36, jul./dez. 2013. Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/revistadanca/article/view/9752. Acesso em maio/2020. 

GIL, José. Metafenomenologia da monstruosidade: o devir-monstro. In: COHEN, Jeffrey Jerome et al. Pedagogia dos Monstros: os prazeres e os perigos da confusão de fronteiras. Trad. e Org. Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. 

GREEN, Jill. Coreografando uma virada pós-moderna: o processo criativo e a somática. Vazantes, Volume 02, Número 02, 2018. Disponível em http://periodicos.ufc.br/vazantes/article/view/40287. Acesso em maio/2020. 

HASEMAN, Brad. Manifesto pela pesquisa performativa. In: SILVA, Charles R.; FELIX, Daina; et al. (orgs.) Resumos do 5o Seminário de Pesquisas em Andamento PPGAC/USP. São Paulo, PPGAC- ECA/USP, v.3, n.1, 2015. Disponível em: encurtador.com.br/dsOPZ. Acesso em maio/2020. 

JUNIOR, Carlos. Sobre corpos e monstros - algumas reflexões contemporâneas a partir da filosofia da diferença. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 15, n. 1, p. 179-187, jan/mar, 2010a. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/pe/v15n1/a19v15n1.pdf. Acesso em maio/2020. 

HISSA, Cássio; RIBEIRO, Mônica. Saber sentido. Conceição | Concept., Campinas, SP, v. 6, n. 2, p. 90–109, jul./dez. 2017. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/conce/ article/view/8648656. Acesso em maio/2020. 

SANDER, Jardel. Camelos também Dançam. Movimento corporal e processos de subjetivação contemporâneos: um olhar através da dança. Tese (doutorado). São Paulo, PUC, 2006.

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