Análise Pré-projeto. Naiara Lira
INVESTIGAÇÃO DO PROCESSO CRIATIVO CÊNICO A PARTIR DA EXPERIMENTAÇÃO COM MEMÓRIA E IDENTIDADE NEGRAS
1- questão bibliográfica- Impacto das novas ferramentas de busca e de análise de tese/dissertação para pesquisa.
Sendo uma aluna do mestrado que não fez uma monografia durante a graduação, a escrita da pesquisa com todas as regras e possibilidades é, em um primeiro momento, bastante assustadora. Escrevi meu pré-projeto utilizando basicamente a bibliografia obrigatória para a prova de ingresso, algumas leituras da militância negra feminista e indicações da minha fonoaudióloga uma vez que minha pesquisa envolve voz. As ferramentas de busca acadêmica me deixaram bastante animada, especialmente com a possibilidade de encontrar trabalhos finalizados envolvendo questões relacionadas à minha pesquisa. Ter acesso a uma diversidade de dissertações me ajuda a visualizar melhor o caminho que preciso trilhar e o exercício que realizamos de análise me ajudou a não perder tempo com trabalhos extensos que muitas vezes tem apenas um capítulo que se relaciona com a minha pesquisa. O aumento drástico de bibliografia para minha pesquisa resultou em uma estruturação do caminho que preciso trilhar na escrita da dissertação. Neste momento já consigo visualizar o que será abordado em cada capítulo e já estou bastante adiantada na escrita do primeiro.
- Memória. Neste semestre entendi que minha pesquisa tem muito mais a ver com a memória e a escrita de si do que inicialmente antecipei. Minha bibliografia tem se ajustado a essa descoberta.
- Identidade. Iniciei meu estudo falando de vozes negras, no entanto, conforme expando minha bibliografia e o entendimento dessas “vozes negras”, entendo que, na verdade, o objeto da minha pesquisa se relaciona com vários aspectos da identidade negra: ritmos, cantos, danças, capoeira e o discurso coletivo encontrado quando se percebe a memória partilhada por esse grupo.
- Processo Criativo. Iniciei meu estudo falando sobre personagem cênica sem perceber que isso limitaria um bocado o que de fato desejo entender e pesquisar. O objeto de estudo deste trabalho se desenvolve em cima das memórias compartilhadas por pessoas que se reconhecem negras, não de um espetáculo já escrito e montado em outras ocasiões. Minha pesquisa investiga como essa base de memórias se reúne e se transforma em um espetáculo absolutamente inédito com cada grupo. Tanto o espetáculo do Duo Camboatá quanto A Empregada da Sufragista surgiram a partir de uma base dada e do trabalho colaborativo com as atrizes. Agora investigo o processo criativo completo, partindo de provocações para estimular a memória compartilhada e observando como os improvisos se transformam até se tornar em um espetáculo, sem ser dada uma base inicial. Para tanto, utilizarei alguns princípios do processo criativo de Ariane Mnouchkine do Théâtre du Soleil. Em uma de suas entrevistas ela descreve que em dias de ensaio a companhia se reúne para tomar café da manhã e ali, em momento de descontração, várias ideias aparecem. São utilizadas as que naturalmente “deixam a mesa do café da manhã”, significando que as ideias contagiosas, onde pessoas colocam sua energia trabalhando naturalmente no desenvolvimento e amadurecimento das ideias, essas sim se tornam espetáculo. Trabalharemos com diário de bordo individual e coletivo durante as provocações para garantir nenhuma ideia que viralize pelo grupo seja perdida.
2- Questão metodológica- como você vai fazer sua pesquisa interrogando seu objeto, questionário, vídeos, etc. Programar atividades.
Objeto da minha pesquisa:
Investigar a maneira como os corpos negros se tornam imediatamente cúmplices ao entrar em um espaço sem a presença não-negra. Proporcionar um ambiente distante de qualquer tipo de silenciamento, onde se possa explorar a emissão sonora, estimulando o indivíduo a exercitar seu aparelho vocal, seu corpo e suas memórias visando encontrar a vocação coletiva de cada grupo e ouvir/ ver o que socialmente não lhes é permitido dizer. Experimentar métodos de criação da personagem cênica a partir da voz, tanto emissão quanto discurso, corpo e música com curta metragens de quarentena, formando uma web série e realizar uma oficina aberta a estudantes negros de todos os cursos, de 60h/aula na UnB em formato TEAC (Técnicas Experimentais de Artes Cênicas), objetivando desenvolver um processo de criação para montagem de um espetáculo de teatro musicado.
Metodologia:
- Acabei de finalizar a ementa para o TEAC que darei semestre que vem;
- Assistir aulas práticas de professoras e professores do departamento para visualizar possibilidades de aplicação de exercícios e didática em tempos de pandemia (em andamento);
- Levantamento de exercícios, textos e espetáculos que provoquem a memória das participantes, induzindo à fala, canto, escrita, dança, desenho ou qualquer outra expressão artística ou não. (em andamento);
- Realizar uma série de 13 entrevistas, especialmente durante o período de férias de final de ano. Disponiblizar no YouTube e divulgar o material: Jonathas Andrade (ok), Ubirajara Santos (marcada), Nielphine Ni (marcada), Agamenon Abreu, Taís Araújo, Fernanda Jacob, Cristiane Sobral, Grace Passô, Larissa Mauro, Meimei, GOG, Mestre Zulu e Márcio Meireles.
- Finalizar a introdução e primeiro capítulo antes do retorno das aulas;
- Planejamento das aulas do TEAC em 4 partes:
1. Revisão de conceitos e investigação do corpo negro: voz enquanto emissão e sensação (4 aulas)
2. Investigação do discurso negro (4 aulas)
3. Sobreposição: discurso, canto, música, corpo (8 aulas)
4. Curadoria e ensaios (16 aulas)
- Elaboração de um questionário/ entrevista para as alunas do TEAC e participantes da websérie;
- Escrever os capítulos 4 e 5 durante o primeiro semestre de 2021 uma vez que se trata das práticas realizadas no TEAC e na websérie;
- Qualificar no final do primeiro semestre de 2021;
- Desenvolver os capítulos 2, 3 e as considerações finais durante o segundo semestre de 2021;
- Revisar e finalizar a dissertação durante as férias de final de ano de 2021;
- Defender a dissertação no início do primeiro semestre de 2022.
Estrutura:
Cada capítulo tem o nome de um momento ritualístico da capoeira, desde o início da roda até o momento em que ela termina. Os nomes se relacionam com o conteúdo do capítulo.
Nome: A Raiva e o Afeto
Introdução: Chamado do Gunga
Capítulo 1: Ladainha
História do negro brasileiro desde África Subsaariana, visão europeia, nativos ameríndios e como essas relações se desenvolveram até a modernidade. Mestiçagem, gênero, dominação, colonização e superação.
. La Malinche (1 página)
. A Mulata (1 página)
. Índias Ocidentais e do Meio Dia (7 páginas)
. Afro-latina-americana e Caribenha (2 páginas)
. Escravizada (6 páginas)
. Quilombola
. Empreendedora e Funcionária
. Estudante
Capítulo 2: Louvação às Mestras e Mestres
História do teatro negro do Brasil (dissertação Cristiane Sobral) para o DF. Grupos expressivos, entrevistas. Investigação do discurso negro. Teatro do oprimido (?).
Capítulo 3: Corrido
Memória cultural, escrita de si, teatro performativo, voz enquanto emissão e sensação. Duo Camboatá, A Empregada da Sufragista, samba, capoeira, voz cantada, palavra em performance, voz do oprimido. Sobreposição: discurso, canto, música e dança a partir da memória.
Capítulo 4: Chula
Anne Bogart, direção e experimentações fora da UnB - Websérie de quarentena. Cada capítulo é um curta-metragem de no máximo 15 minutos a partir de experimentações realizadas em grupos de 2 a 4 pessoas. Atrizes e não atrizes, homens, mulheres e pessoas não binárias. Questionários, diário de bordo coletivo.
Capítulo 5: Quadra
Experimentações na UnB (TEAC). Questionários, diários de bordo.
Considerações finais: Iê
3- Inquietações, coisas a definir, possibilidades.
- Treino da escuta e do silêncio;
- Ensaiar as experimentações para o TEAC dirigindo uma série de curta metragens filmado em celular. O primeiro deve ser realizado com 3 mulheres negras ainda esse semestre.
- Minha pesquisa trata de negritude brasileira. No primeiro capítulo flerto com a negritude dos Estados Unidos e da América Latina, evidenciando os processos de colonização não só de Portugal mas também da Espanha e Inglaterra. Ainda não sei se abro mais espaço na pesquisa para um panorama teatral dessas outras realidades do continente americano ou se deixo apenas em caráter de citação.
- Para quem trabalha com cultura negra e colonização, descobri um dicionário escrito por historiadoras de vários países com 50 textos que tratam dos processos de colonização que envolvem a escravidão. Fala de escravidão indígena e negra no continente americano como um todo, mas trata especialmente da escravidão negra no Brasil. https://contrapoder.net/wp-content/uploads/2020/04/SCHWARCZ-_-GOMES-2018.-Dicion%C3%A1rio-da-escravid%C3%A3o-e-liberdade.pdf
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