Análise do Pré-projeto Pablo Magalhães

 Análise do Pré-projeto

Pablo Magalhães

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  • BREVE CONCEITUAÇÃO

Sonoridade: Sonoridade, nas artes cênicas, é um conceito de César Lignelli que abarca todos os sons que envolvem a cena, podendo se manifestar como Sonoplastia, Música de Cena e Palavra. Lignelli também trabalha com conceitos a respeito das relações entre a sonoridade e a visualidade da cena (2012 p.148).

Ato Total: “O ato total é o que acontece quando você se entrega completamente a alguma coisa. Acontece quando você esquece de si mesmo e torna-se apenas o espírito que está rondando o ato que está sendo realizado naquele determinado momento. Quando não se lembra de mais nada a não ser do momento em que se encontra. Então, neste instante, acontece o ‘Ato Total’ ”. (MOLIK 2012 p.190 e 191)

Corpo Vida: A ideia desta "busca pelo corpo-vida" é uma eliminação de coisas excessivamente artificiais e estéticas na relação do ator com seu corpo, proporcionando a ele, atingir o que  chamavam de  "nível dos impulsos e da motivação". É a eliminação de obstáculos corporais que se opõem à concretização fluente dos impulsos internos. Desbloquear o corpo-vida é buscar a organicidade do ator. (GROTOWSKI, FLAWSZEN 2007, 2015)

Vida: “Precisamos primeiramente encontrar a Vida. Apenas nessa Vida que se pode tentar colocar, se é que possível dizer isso, uma voz aberta. E a partir dessa voz aberta precisamos passar de uma simples vocalização para uma música. E aí colocamos o texto. [...] Todos encontram a Vida em si mesmos. A Vida é algo conectado com a vida de cada um, com as memórias, e até mesmo com os sonhos [...] A Vida quando encontrada possui sua forma física e vocal.  



  1.  Questão bibliográfica - Impacto das novas ferramentas de busca e de análise de tese/dissertação para pesquisa.



Inicialmente minha pesquisa partia da análise da peça teatral "Akrópolis" dirigida por Jerzy Grotowski. A análise investigaria princípios pedagógicos / estéticos relativos à composição das sonoridades (LIGNELLI, 2004, 2011, 2013, 2014, 2019) desta obra. A investigação propunha testar esses princípios em uma composição inédita, a obra O Chapéu Preto, escrita por Grupo Momentâneo e Tui Segal. 

Ao longo das aulas de metodologia orientadas por Marcus Motta tive contato com ferramentas que otimizam buscas bibliográficas e, devido a isso, e as conversas com meu orientador e também devido a pandemia de Covid-19, tomei algumas decisões quanto ao grau de importância que passariam a ter alguns dos autores, das metodologias e dos registros audiovisuais que já faziam parte do planejamento. 

Dessa forma, ao me debruçar sobre as teses, dissertações, livros, vídeos de exercícios, vídeos de peças e entrevistas a respeito do trabalho de Grotowski senti a necessidade de realizar um recorte em meu objeto de estudo. Inicialmente minha pesquisa propunha um trabalho tanto de análise (bibliográfica e audiovisual buscando princípios metodológicos) quanto de aplicação prática (testando esse princípios em uma obra), contudo, devido a pandemia, as aulas e as orientações, decidi focar e me aprofundar apenas na parte “analítica” do trabalho, deixando a parte prática para um outro momento. 

Por fim, recortei esse objeto de estudo para “a voz”, uma vez que, após a consolidação da busca pelo “teatro pobre”, as sonoridades das práticas grotowskianas passaram a ser produzidas  pelas vozes dos atores pois:

 “A eliminação da música (ao vivo ou gravada) não produzida pelos atores permite que a própria representação se transforme em música através da orquestração das vozes e dos ruídos produzidos pelos adereços. Sabemos que o texto em si não é teatro e que se torna teatro apenas pelo o uso que seus intérpretes fazem dele - isto é, graças às entonações, à associação de sons, à musicalidade da língua” (GROTOWSKI, 1987 p. 17)

Ao realizar essa mudança, a hierarquia de importância dos autores em minha bibliografia sofreu algumas alterações: Grotowski ainda permanece como uma das bases porém Zygmunt Molik toma a frente na importância para esse trabalho, uma vez que, este era o ator do Teatro Laboratório que mais se aprofundou no trabalho vocal, tanto no seu próprio quanto no de seus colegas, o que acabou por gerar desde técnicas para utilizar e desbloquear a voz (como “Os Ressonadores”, as “Partituras Vocais” e o “Alfabeto do Corpo”) até complexos conceitos sobre o assunto (como “Voz Plena” e “Vida”).

Outro autor que apareceu em minhas pesquisas foi o Fernando Aleixo, doutor em artes cênicas e atual professor de Interpretação/Voz na Universidade de Uberlândia. Aleixo, estuda pistas para um estudo sobre a voz na perspectiva do trabalho de Grotowski (possui inclusive um artigo com esse nome) e no livro “GROTOWSKI: Estados alterados de consciência” afirma que trabalha sobre essa ênfase na voz “ há dezessete anos, não como um ‘fechamento’ de foco no trabalho do ator, mas como um ponto a partir do qual eu me aproximo do universo desta arte” (p. 23).

Quanto a peça Akrópolis, manterei a observação acerca das sonoridades da obra porém buscando compreender como se dava o uso da voz dos atores (bastante ligado às “partituras que oscilavam entre o canto e a fala”) principalmente a de Molik, uma vez que este era um dos protagonistas da peça e possui um canto ao final da obra que, de acordo com relatos dele, cantou com “Voz Plena” e “Vida” em um “Ato Total”:

 “Foi um canto que tive que inventar sozinho. Era um hino que ele (o personagem) cantava quando tentava provocar uma disputa com Deus. [...] No começo era apenas um tipo de conversa, já era uma composição, mas era como uma fala, mas, depois mudou, tornando-se uma canto, e eu o entoei” (MOLIK, 2013 p.222). 

Para além de Akrópolis também serão investigados os filmes “Acting Therapy”, “Dyrygent” e “Alfabeto do Corpo” que demonstram exercícios ministrados por Molik em seus workshops em busca do “desbloqueio da voz”.

Devido a essa mudança nas bases e no objeto de pesquisa do projeto busquei assumir um trabalho de análise e pretendo gerar dados e dissertar a respeito do que foi dito sobre voz no trabalho de Molik e Grotowski… Mas isso parece excessivo para um mestrado certo? Chegamos então a problemática atual de minha bibliografia: O recorte temporal. 

Em The Grotowski's Source Book editado por Lisa Wolford e Richard Schechner, a trajetória artística de Grotowski foi dividida em cinco fases: Fase Teatral, Fase Parateatral, Teatro das Fontes, Drama Objetivo e Arte como Veículo. Em minha pesquisa o recorte inicial era trabalhar apenas acerca da fase teatral porém após as análises bibliográficas e novo recorte do objeto de pesquisa, notei que isto resultou em um paradoxo: como falar a respeito do trabalho vocal na Fase Teatral de Grotowski sendo que os conceitos mais bem desenvolvidos e as técnicas vocais mais eficazes e relacionáveis ao “corpo vida”, que foram criadas pelo Teatro Laboratório (em especial por Zygmunt Molik), ocorreram após esse período? Então, como falar de trabalho vocal grotowskiano para fins estéticos como um espetáculo, por exemplo? Deveria falar dessas duas primeiras fases, a Teatral e a Parateatral? Falar sobre a diferença do trabalho vocal no decorrer das fases? Ficam esses questionamentos.



  1.  Questão metodológica - como você vai fazer sua pesquisa, interrogando seu objeto.  questionário. vídeos, etc. Programar atividades. 



Como dito anteriormente, após exercícios realizados da disciplina “metodologia”, mudou-se o objeto de pesquisa deste projeto para “a voz”, o que acabou mudando também a metodologia a ser utilizada. Dessa forma, a importância do trabalho prático em um processo criativo passou para os dados que eu, como pesquisador, posso gerar nesta pesquisa. 

Inicialmente, após as análises bibliográficas e audiovisuais a pesquisa tinha o intuito de adaptar os “Exercícios Físicos” e “Plásticos” do Teatro Laboratório e utilizá-los no Grupo Momentâneo, modificando esses exercícios usando sonoridades como influências criativas para o grupo em vias de experimentação de uma nova obra. Obviamente, devido a opção por aprofundar na parte analítica, esses exercícios a priori não receberão tanto foco, no entanto, exercícios específicos de trabalho vocal tomaram essa prioridade.

Dentre os exercícios e técnicas criados por Molik temos: Os Ressonadores; As Partituras Vocais; O Alfabeto do Corpo; O Desbloqueio Vocal; E o “Cante a sua Vida”. Como esses exercícios surgiram ao longo de todo o trabalho de Molik junto à Grotowski, ou seja, acompanharam e surgiram ao longo das diferentes “fases”, acabam por cair no paradoxo anteriormente citado. 

Um bom exemplo são os “Ressonadores” que, mais tarde, foram deixados de lado por Molik que relata: “Quando comecei a explorar o ‘Voz e Corpo’, iniciei com os ressonadores, mas depois de um tempo achei-os completamente inúteis e até nocivos, porque a atenção dos participantes caminhava na direção errada” (2012 p. 37). Dessa forma, com o passar do tempo, Molik foi abdicando dos “Rossonadores” por tirar o foco da voz do ator daquilo que realmente importa nesse trabalho: O impulso. 

Ressalto que esses exercícios também não serão testados presencialmente neste mestrado, neste caso, serão analisados registros audiovisuais obtidos no livro “Treino de Voz e Corpo de Zygmunt Molik” escrito por Giuliano Campo que possui anexado à essa edição um DVD contendo três filmes: “Acting Therapy” (1976), “Dyrygent” (“Maestro” 2006) e “Alfabeto do Corpo” (2009). Nesses filmes é possível analisar cada um dos exercícios vocais criados por Molik bem como notar a maturidade que o trabalho ganhou ao longo dos anos.

Por fim fui agraciado com a maravilhosa notícia de que meu orientador tem contato direto com Giuliano Campo (escritor do livro sobre Molik) o que me possibilitaria perguntar pessoalmente a este autor dúvidas acerca do trabalho vocal grotowskiano; questionamentos acerca das mudanças nesse trabalho vocal ao longo das “fases”; e até quem sabe, dissertar sobre assuntos que foram apenas citados ao longo das obras literárias mas observados nos registros audiovisuais dos exercícios.

Essa mudança na metodologia, constantemente acompanhada e aconselhada por meu orientador Cesar Lignelli, juntamente aos conteúdos das aulas de metodologia orientadas por Marcus Motta, me estimularam a buscar uma descentralização do texto no corpo da minha pesquisa, dando mais ênfase nos registros audiovisuais já previstos para serem analisados e, principalmente,  nas entrevistas agora propostas, buscando assim, uma escrita que pertença a esse “universo grotowskiano” como a escrita de Eugênio Barba e Giuliano Campo pertencem (que por meio de diálogos com Grotowski e Molik criaram seus “livros entrevistas”). 



  1. Inquietações, coisas definir, possibilidades.   



Uma das “pérolas” planejadas para essa pesquisa (ao menos ao meu ver) era a possibilidade de retornar à Wroclaw na Polônia onde realizei um workshop imersivo do Instituto Grotowski (na mesma sede do Teatro Laboratório no interior da floresta Brzezinka). Essa possibilidade se dava pelo contato que ainda tenho com os professores Przemyslaw e Joanna do worshop “From Ember to a Flame” que se trata de uma imersão por 10 dias em um “treino de voz e corpo” inspirado nas práticas do Teatro Laboratório.

Inicialmente o intuito seria investigar o uso/criação de sonoridades durante os “Exercícios Físicos” e os “Plásticos” ao longo do curso (uma vez que já vivenciei essa união de som e movimento neste workshop), porém tais exercícios já não possuem tanto peso nessa pesquisa quanto antes e, novamente, a pandemia do novo coronavírus não me permite ter a certeza de uma viagem como essa dentro do período deste mestrado.

É importante ressaltar que analisar este workshop para além dos “Exercícios Físicos” e “Plásticos”  permanece sendo um terreno fértil para essa pesquisa uma vez que muitos dos exercícios que pratiquei ao longo dessa imersão na Polônia são inspirados nas práticas vocais de Molik supracitadas.

Por fim venho elucubrando na possibilidade de realizar entrevistas também com esses dois professores do Instituto Grotowski acerca das metodologias do trabalho vocal utilizadas no workshop e suas inspirações nas práticas de Molik. Para agregar a este bloco posso integrar relatos pessoais como aluno deste curso a fim de propor uma perspectiva empírica acerca do trabalho vocal de Molik e Grotowski aliada a perspectiva audiovisual proposta pela análise dos filmes e a perspectiva conceitual proposta pela análise bibliográfica.  

Como dito antes, a indefinição acerca do recorte temporal parece ser o maior problema no momento, uma vez que esse recorte implica nos conceitos e exercícios que serão utilizados e analisados. Dessa forma, vale a pena um maior recorte para que se mostre a evolução desse trabalho vocal? Desde os “Ressonadores” ao “Cante a sua vida”? Ou seria melhor um recorte menor com a possibilidade de realizar as análises e entrevistas propostas? O quanto cabe nesse trabalho e o quanto eu consigo realizar? E por fim, se eu quero referenciar essa estética de “escrita em entrevista” assim como estes autores fizeram (com o intuito de não criar um “manual do ator”) Como posso tratar de questões técnicas vocais sem criar uma “receita de bolo” ou um “certo e errado”?



PLANO DE TRABALHO ATUALIZADO


(1) Realizar as disciplinas da pós graduação, obrigatórias e optativas, intuindo conhecer métodos de análise de processos composicionais para a cena. Duração prevista: 2 semestres.

(2) Revisão bibliográfica a respeito dos autores Grotowski, Molik, Flaszen, Campo, Olinto, Aleixo,  Lignelli e Schaffer (dentre outros a serem descobertos). Duração prevista: 2 anos

(3) Revisão audiovisual de Akrópolis e dos filmes "Alfabeto do corpo", "Dyrygent" e "Acting Therapy" intuindo compreender a práxis vocal de Molik. duração prevista: 1 semestre.

(4) Realização e transcrição de entrevistas pré-estruturadas com Giuliano Campo acerca do trabalho vocal de Molik retratado nos vídeos e livros analisados: 2 meses

(5) Realização e transcrição de entrevistas pré-estruturadas com Przemyslaw e Joanna do worshop “From Ember to a Flame” acerca do trabalho vocal no curso e suas inspirações em de Molik: 2 meses 

(6) Qualificação do projeto ampliado da pesquisa apresentando resultados das atividades de 1 à 5 após diálogo intenso com orientador, junto à Universidade. Duração prevista: 1 mês.

(7) Escrita da dissertação, com a apresentação do arcabouço teórico pesquisado e a análise dos resultados da aplicação da metodologia proposta, nos padrões da ABNT, a ser revisada pelo orientador. Pré-requisito: todas as atividades anteriores. Duração prevista : 2 anos.

(8) Escrever e submeter, em conjunto ao orientador, um artigo em uma revista conceituada do campo das artes. Duração prevista: 2 anos

 

 

CRONOGRAMA DE PESQUISA ATUALIZADO


  • Realizar disciplinas do mestrado

  do 1º Mês

  ao 12º Mês

  • Pesquisa bibliográfica

  do 1º Mês

  ao  22º Mês

  • Análise audiovisual 

  do 3º  Mês

  ao  8º Mês

  • Entrevista com Giuliano Campo

  do 9º Mês 

  ao 10º Mês

  • Entrevista com Przemyslaw e Joanna 

  do 11º Mês

  ao 12º Mês

  • Qualificação

  do 13º Mês

  ao 14º Mês

  • Finalização da dissertação 

  do 14º Mês

  ao 23º Mês

  • Defesa

  do 24º Mês

  ao 24º Mês



FOTOS DE MOLIK EM SEU CURSO "VOZ E CORPO"



















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