Entrevista : Hierofantes - por Thais Felizardo

 

Essa é a transcrição da entrevista realizada dia 22/10/2020 as 20:30h gravada via google meet e celular. Na “reunião” se encontrava eu (Thais Felizardo) como entrevistadora. E o grupo Hierofantes com os integrantes (Anderson Floriano, Daniela Josper, Diogo Cerrado, Edimilson Braga, Anderson dos Reis - júnior) como entrevistados. Complementação do entrevista com Edimilson dia 22/10/2020.

Links das entrevistas

https://youtu.be/tY4OOLloii4

https://youtu.be/B1sY1QrQGxE

https://youtu.be/f3RKNjJ6pCY

 

Thais: Boa Noite pessoal! Então, em primeiro lugar queria agradecer imensamente por vocês doarem/cederem um tempo de cada um de vocês para fazer esta entrevista comigo. Gostaria de agradecer também ao Edi que intermediou esse encontro e de dizer também que essa entrevista faz parte de um trabalho a ser entregue ao professor Marcus Mota para a disciplina de metodologia do curso de mestrado que estou fazendo na UNB. Quero dizer também que toda a entrevista será gravada e transcrita posteriormente e postada no Blogger da disciplina. Vamos começar?

Anderson: Sim. E como será?

Thais: Não combinei nada com o Edi, eu juro. (Todos riem). É sério! Nenhum de vocês sabem quais são as perguntas, mas imaginei assim: São 5 perguntas. Vou fazendo as perguntas/questões e vocês ficam livres para responder como e quem quiser pode ser?

Todos presentes dizem sim ou acena com a cabeça no vídeo reunião.

Thais: Então vou começar.... Me conte um pouco sobre a trajetória do grupo. Como surgiu? Para que? E com que propósito?

Anderson: Como sou o diretor da companhia acho que será mais fácil para mim falar dessa trajetória.... Eu o Pablo, o Humberto trabalhávamos no Celeiro das Antas com o Zé Regino, mas no fim da temporada, houve uma cisão no grupo, alguns integrantes saíram assim como eu, o Pablo, o Humberto e cada um pegou seu caminho. O Humberto fundou o Hierofantes e volta a convidar eu o Pablo para trabalhar com ele...esse foi um dos primeiros trabalhos hierofantes: trabalho de rua, Primeiro Milagre e Dois Perdidos do Plínio Marcos, que era de palco. Aí após essa formação em 96 o Humberto chamou a gente falando: olha vai ter um trabalho novo!? Aí então convidou eu, o Pablo para voltar ao grupo que Éramos do celeiro das Antas...aí a gente reúne para entrar, já no Hierofantes, e isso no ano de 1997 que a gente: eu e o Pablo, faz o primeiro espetáculo no Hierofantes. A gente se une e começa essa nova formação. Da galera do celeiro das Antas tinha Jorge Frank, Luciano Moreira, eu, Pablo e Humberto... (entra uma interrupção de som) Tá dando eco...

Thais: é o Edi que entrou duas vezes mas vai restabelecer.

Anderson: E aí a gente começou a trabalhar profissionalmente... (é a primeira vez que vejo o Ed. se multiplicando...risos) aí a gente começou a fazer novos projetos, novos espetáculos, chegamos até a ter três quatro espetáculos sendo feito ao mesmo tempo; chegamos a ter 17 pessoas participando como integrantes da companhia; número muito grande com vários espetáculos ao mesmo tempo. Vários projetos ao mesmo tempo, só que aí fizemos espetáculo educativos como: Tudo Trim, Brasília de Pedra e Flor que era de Brasília. Fizemos também: Escabum sobre energia elétrica. A gente trabalhava muito com essa área de educação... e o Auto da camisinha em 99.

Interrupção da Daniela Josper: Thais desculpa te interromper, mas só uma sugestão, não era bom gravar.

 Thais: Mas está tá gravando... foi isso que eu falei para vocês no início: está gravando.

Anderson: Estou sendo mais descritivo possível para você ter uma ideia né.

Thais: Na verdade, você já está até respondendo algumas outras aqui, mas eu já vou né!

Anderson: Que bom. Ai então assim, nós começamos a ter uma produção muito intensa em Brasília né; o Hierofantes era considerado uma das grandes potências em Brasília na época, junto com o Celeiro que continuava e Udi Grudi e outros grupos que permanecem até hoje né. E era muito representativo na cidade. Pode falar...

Thais: Na verdade você falou só Humberto, esse é o Humberto Pedrancini né.

Anderson: Isso, exatamente! Ele ficou como líder e reconhecido como Hierofantes do Humberto Pedrancini durante muitos anos até a sua saída em 2004 né. Então ele ficou quase 10 anos na companhia, foi ele que que conduzia os trabalhos da companhia até então. Ele que levava os caminhos, direcionava os caminhos né.  Tínhamos, na época, era um núcleo duro que era eu, Pablo, Humberto, Jorge e Moisés. Nós decidimos os caminhos do Hierofantes até o ano de 2004 Foi assim. Em 2004 com o espetáculo Amor e o Rio Brilhante, assim que terminou a temporada mais uma cisão, aí foi a primeira dentro da companhia né! Humberto saiu, vários outros integrantes saíram. Aí ficou eu: Anderson Floriano, Pablo Peixoto e Wellington Abreu na companhia continuando os trabalhos da companhia. Essa formação também viajou muito...tivemos essa primeira experiência internacional: o Hierofantes fez oito viagens internacionais, sendo dentro delas uma missão oficial pela embaixada do Brasil na África junto com a Unicef que é uma campanha de DST AIDS em São Tomé e príncipe na África. Tivemos também, cinco vezes. no Estados Unidos apresentando no Brazilian Day. O que é legal que: até hoje o que a gente tem de conhecimento é que o Hierofantes foi a única companhia de teatro que se apresentou no Brazilian Day em Nova York.

Thais: muito bacana mesmo.

Anderson: Porque é um evento de música né; só aí o teatro nós representamos durante cinco anos... em 2015 né... parece que são de dez em dez anos, de nove em nove anos né...risos... uma nova cisão: sai Pablo e Wellington. Aí permanece uma nova gestão: eu o Ed.

Thais: Fala nome e sobrenome do Pablo e Wellington.

Anderson: Pablo Peixoto e Wellington Abreu. Aí os dois saíram da companhia em 2015 e ficamos eu o Edi Já pertencia; O Júnior (Anderson dos Reis– Filho do Anderson Floriano) tava começando ele ajudava mais ele não era oficial né! Ele era um ajudante que estava sempre junto com a gente fazendo os trabalhos... Aí então a gente de fato a gente assume a companhia: eu, Ed. Anderson Júnior. A gente começa a desenvolver os trabalhos, e a gente continua com novos trabalhos, a gente começou com o novo trabalho sobre a mulher: O ELA em 2016 né que foi a primeira gestação dessa atual gestão né. Esse primeiro espetáculo, que continua em temporada. Esse ano era para a gente ter feito uma temporada, mas só que graças a pandemia ficou para o ano que vem, mas o espetáculo ainda está na ativa. Tivemos outros espetáculos também que aí... Dani você entrou em 2018?

Daniela: Pois é... Boa pergunta?! (todos rindo) Bora lá 2019...foi 2018 eu estava lá no CEM 12 aí de lá fui para Brazlândia o ano passado e agora estou na Ceilândia... É isso mesmo 2018, já marca aí risos.

Thais: Dani você está na Ceilândia?

 Daniela: Agora tô. No Incra 9.

Thais: conheço lá...

Daniela: Pois é estou querendo sair... (todos sorriem) mais enfim esse é um capítulo à parte né

Anderson: exatamente! Quando a Dani entra a gente dá uma pressionada no Diogo porque o Diogo está com a gente desde 2010, mas ele era sempre assim: o parceiro. A gente sempre recorri o Diogo dizendo Diogo, olha tem um espetáculo assim vem fazer com a gente; Diogo vamos ter um trabalho assim vem fazer com a gente.

Thais: e o Diogo vocês conheceram como/Assim? Para chamar?

Anderson: Foi com um convite do Wellington Abreu a ele para participar de um espetáculo chamado Bacantes e Brincantes em 2010; assim foi o primeiro espetáculo de assim espetáculo de elenco: convidamos pessoas de fora da companhia para participar e o Diogo foi um deles, a partir daí o Diego sempre teve uma relação muito estreita com a gente. Então a gente sempre recorri a ele. Em 2018 a Dani entrando, a gente chegou: eu e o Wellington e falou: olha tá na hora da gente ir pressionar colocar o Diogo na parede e falar assim: Pô, cai para dentro! E aí que foi muito legal, que era essa ideia do Diogo também, que ele podia né, mas que faltava o convite. Então veio um convite estamos nessa atual formação: Anderson Floriano, Anderson dos Reis, Edimilson Braga, Daniela Josper e Diogo Cerrado.

Thais: olha para e pensa né!? Teve o lance da mulher do feminismo e agora está a Dani né:   bendito, ela, mulher entre os homens né... (risos gerais) Tá certa Dani pegou seu posto!...risos...

Daniela: e é assim eles fizeram esse espetáculo antes da minha entrada viu.(risos...)

Thais: pois é! (Riso geral). Precisava...

Anderson: Foi Graças ao Ela que ela entrou literalmente...

Daniela: exatamente.... Foi mesmo Anderson foi mesmo...

Anderson: aí ela: leva pra minha escola, o espetáculo pra minha escola, que também era na Ceilândia minha escola lá, a gente estava lá pra apresentar a gente bateu um papo. Aí veio aquela história né: Eu conheço a Dani, aliás eu a Dani e o Edi somos antológicos (risos) é que com a Dani estudei com ela no ensino médio, na época se chamava segundo grau. O Edi. Eu comecei a fazer teatro com o Ed a 28 anos atrás... então assim né é uma coisa assim que a gente se conhece a eras..., mas que legal! Que muito tempo depois a gente começa a trabalhar junto e aí a gente começa a falar das nossas histórias né e a Dani fala: Pô! Eu não tive a oportunidade de trabalhar profissionalmente com teatro tarara, tarara...E eu falei assim: sério? O quê? Você quer trabalhar profissionalmente? Ela ué não sei! Se quiser cai para dentro. E entra no Hierofantes...e foi meio que na pressão... anda vai...risos

Thais: Que legal!

 Daniela: Isso mesmo (sorrindo) ...

Anderson: Aí a Dani entrou e estamos construindo nessa formação nova. É o primeiro espetáculo de fato que estamos construindo que é o Arcano. A gente tá começando a construir o texto agora. Então a gente já tinha um texto base, a gente está reconstruindo o texto que é o Arcano, e está todo mundo participando né... só o Júnior que é o único dos integrantes que não trabalha com atuação, mas está sempre com a parte dessa discussão, produção, parte da informática, que eu não tenho a menor paciência com mídias sociais... aí ele que controla, quando ele não controla eu controlo ele (riso geral).

Daniela: Sempre tem um controle....

Anderson: Aí assim... nessa nova formação nós estamos com o espetáculo das Olimpíadas que esse era o nosso grande ano né…Era justamente isso; porque a gente tinha pensado em fazer o espetáculo, quer dizer, o espetáculo foi feito...nós estamos em 2020... o espetáculo foi idealizado para ser realizado em 2016. Nas olimpíadas de 2016 só que não consegui patrocínio. Então a gente conseguiu agora! Então estava tudo para ser o nosso ano, nossa grande comemoração né. Porque O Hierofantes completou 25 anos este ano né...

Thais: é eu dei uma lida em você...

Anderson: então era nossa grande comemoração né. Era o auge e a gente estava apresentado, alias a proposta era apresentar na abertura das olimpíadas aquela coisa toda...aí veio a pandemia. Bom como as Olimpíadas ficou para o ano que vem a gente tá empurrando também, mas só que a gente não consegue empurrar mais... porque eu já não tenho mais quase cabelo né. Fazer espetáculo que é de 1 hora, mas que é só esporte, só atividade física, consome muito! Exige muito! A gente não está tendo muita perna né, aliás nem braço. (Todos riem).

Daniela: Oh Thais, eu ainda digo o seguinte: o espetáculo estava tão intenso que geralmente o atleta treina para um esporte, esses camaradas aí fazem sete modalidades cara... é de suar a camisa...eles saem de lá mortos... é fenomenal...

Anderson: são sete mais as acrobáticas, no final ainda tem isso: faz as modalidades e ainda tem as acrobacias: saltos piruetas e tarara; e aí só para dar um “spolerzinho” e atiçar a curiosidade, que a gente sempre gosta, mas eu não mostro imagens; que o grande lance do espetáculo é a ginástica rítmica que a gente faz...

Daniela: (risos) Thais é muito hilário velho...

Thais: eu imagino... e assim...porque é trabalhar com a questão do corpo né e trazer tanta intensidade em 1h deve ser...

Daniela: e ninguém aqui é novinho não viu (kkk) tirando o Júnior Aí...

Thais: Não! O Ed tem dia que ele pensa.... Ele quer matar as meninas na aula... Bora gente! E eu pensando é: quase um educador físico. (Risos) agora sei porque Edi. Agora sei porquê... (risos)

Anderson:  ele é um ninja da turma; a gente sofre para fazer lá e ele vai e faz...

Thais: exatamente (risos)

Daniela: tudo para ele é fácil!

Anderson: é e a gente sofre horrores (riso geral)

Edimilson: Isso era antes da pandemia, porque agora não dou conta mais não...

Anderson: Agora você imagina Thais! Quatro homens fazendo ginástica rítmica que é um esporte extremamente feminino de colanzinho (risos) a rigor né. (Risos geral)

Daniela: e eles fazem bonitinho viu Thais...

Thais: Nossa deve ser fantástico! E olha só nesse quesito só posso imaginar é o máximo que pode ser.… aliás o máximo não, posso ir ver ano que vem!

Daniela: ano que vem se Deus quiser...

Thais: e ele quer rs. Olha só a

Outra pergunta é pra saber se vocês tem alguma relação com o mundo escolar e qual a faixa etária que você acabou falando um pouco e aí.... Porque andaram muito nas escolas, como era essa ligação? Encontrou a Dani né! Enfim...

Anderson: A primeira coisa, como eu desenvolvo todos os projetos então... a Primeira coisa que nos uni nesse universo estudantil escolar: nós temos três professores na companhia.

Edimilson: Quatro com você Anderson.

Anderson: mas falo enquanto atuante né, eu não estou atuando em sala de aula.

(Entrevista interrompida com a volta do Diogo que havia saído da reunião porque a bateria havia acabado... conversa paralelas da Dani com ele sobre seu retorno... que ela estava com saudades e todos comentam de sua aparência... que ele está mais redondinho etc. e tal ele se defende brincando…eu não. Risos geral)

Anderson: Então Deixa eu voltar para responder aqui... então Thaís nós temos essa ligação muito forte com esse universo escolar; que a gente desenvolve tem sempre desenvolvido de fato desde 2016 projetos voltado para escolas hoje nós temos contação de histórias que atinge crianças até o 5º ano.

Thais: mas começa com que idade?

Daniela: Crianças com até 10 anos.

Thais: Não; mas com que idade? A pergunta é: não onde termina mais quando começa. É ed.infantil até o 5°ano ou creche entendi?

Anderson: Educação infantil... do 1°ao 5°ano; eu não domino muito...

Júnior: tem as cotações também.

Daniela: é isso...

Thais: e a contação é para essa faixa etária?

Junior: Então é mais jovem...

Anderson: tô voando aqui.

Júnior: a contação de histórias pai que você fez...

Anderson: (barulho) então nesse espetáculo a gente conta com atriz parceira que é Clara Camarano; a gente atua nessa faixa etária o ela está trabalhando com o ensino médio e EJA. Nós temos também o Olimpíadas que atua nessa faixa do médio e EJA e a gente vai iniciar um vai iniciar recital poético que é do Patativa que vai pra a escola ano que vem quando voltar as atividades presenciais nas escolas. Então a gente desenvolve em todo as faixas etárias né. 

Thais: quase todas por isso fiz a pergunta... O quê que acontece...eu queria saber se vocês têm voltado a primeira ou primeiríssima infância? Pensa!?... Por que a pergunta?...eu resolvi mexer com a primeira infância, Senhor Amado... (risos) o Ed. Viu como tem sido legal...

Edimilson: Dou conta não, dou conta não (riso geral) ...

Thais: mas eu sou contadora de histórias Edi. E vou dar conta! Uma fala: eu quero desligar; o outro fala: eu quero que tenha mais aula... e eu penso: o que eu faço agora... mais enfim vamos indo...

Anderson: Mas é uma coisa que realmente assim por exemplo: a gente sempre teve muito medo de levar para criança justamente porque é uma linguagem diferente né. A gente sabe que são outros recursos que tem que ser utilizados e mais intenso do que uma obra para adolescente ou adulto. Então a gente realmente a primeira infância a gente não atende, mas pro ensino fundamental a olimpíada atinge esse público. Então é direcionado assim

Thais: legal. Esse “bacantes e brincantes” era o quê assim?

Anderson: era um espetáculo/montagem adaptada das bacantes de Eurípedes. Espetáculo de rua.

Thais: sim muito bacana também. Oh! Vou chegar lá nessa pergunta também...o que que acontece também.... Por mais que seja uma linguagem que eu falo um pouco de mim, da coisa  de estar voltado para as crianças é uma descoberta também..., Mas vocês abarcam uma dama grande e não dá também para ser um todo né! A gente vai ter que focar em alguma parte em algum lugar e fazer adaptações essa pergunta essa parte foi só por curiosidade aqui...risos. E aí

Outra pergunta é: Como vocês buscam despertar, ou afetar, ou tocar os espectadores...esses grupos que vão assistir e vocês mesmos entre vocês se envolverem né...

Anderson: agora vou dar a palavra pra outro falar né, que só eu que falei até o momento.

Edimilson: Eu queria voltar um pouquinho Anderson na pergunta anterior a respeito da questão da qual público né... posso pelo menos, posso falar deste momento em que a gente está nessa gestão. Primeiro: o Hierofante sempre foi as escolas levando o espetáculo, até porque a gente acredita que, aí eu falando da qualidade, arte por si só educa né Dani, né Anderson né Diogo e a gente tem feito muito essa discussão aqui em grupo. É claro que por exemplo, que o espetáculo como a contação de história, ela tem esse viés de aproximação com este público né. Já por exemplo:  o Ela tá focado mais, no público que é o público desprezado... vamos chamar assim que é o público do EJA né, que tem uma pegada um pouco não didática, mas educativa... As questões estéticas né, porque a gente acredita que a própria Arte por si só ela educa, mas tem esse viés tem essa pegada um pouco voltada para a própria escola.

(Aqui foi registrada a nova gravação feita dia 26/10/2020 com o integrante Edimilson para finalizar a entrevista de modo mais fiel possível)

 

Edimilson: Bem então vamos lá primeiramente a gente busca a gente precisa entender sempre o público da gente né. Qual é a fase que nós estamos vivendo? Qual o trabalho que a gente está produzindo?  E para qual público?  Quando a gente pensa, por exemplo, na contação de história a gente tem um público específico né. Mas não é só o trabalho, pensar ou trabalhar de forma artisticamente; a gente acredita que ele afeta o público na medida em que ele é pensado para o público, e ele é feito de maneira técnica e poética, quando tem que ser poética né.  Então essa fecundação acontece com reverberação, com uma conexão para esse público. Então a gente pensa para esse público. Então nós temos a contação de história, alguns espetáculos que são contados, são públicos voltados para a escola em geral. A gente aplica na escola com pouco maior e nós temos do 5º ao 9º ano ao Ensino Médio, e a gente pensa também no EJA né, que é um público que a gente percebe que da turma noturna ele não tem acesso. De fato, trabalhos artísticos é pensado artisticamente, é pensado como arte e mesmo fazendo ajustes de linguagem específico para aquele público, esse público específico é um trabalho pensado de forma artística né. Então a gente sempre pensa em qual público alvo, para qual público a gente tá fazendo. Também acreditamos que a arte, para afetar a arte, é importante tornar a arte acessível por isso nós nos dispomos a ir e mostrar a própria linguagem.

Thais: é isso...

Edimilson: entendi...

Thais: acaba que afeta justamente, como o Anderson falou:  colocar a caixa cênica lá que é diferente do teatro na rua e de rua. E aí ele consegue levar o teatro pra escola, mas não é na escola, é a caixa cênica na escola trazendo essa sensibilidade e tal...eu me recordo disso...

Edimilson: exatamente isso, a gente imaginou isso inicialmente na escola parque, eu falei: Anderson, a gente precisa transformar esta sala em um teatro. Então a gente sentou, criou e quebrou a cabeça e criou essa estrutura de caixa cênica que a gente pode levar para qualquer lugar.

Thais: Perfeito!

Edimilson: aí a gente leva o teatro de bolso com o mínimo de iluminação e aparelho de som. Para que a gente ofereça a caixa cênica com o uma iluminação básica, que a gente consiga fazer essa luz acontecer... é claro, ela não é tão profissional como no teatro, mas enquanto escola enquanto experiência de teatro, que a gente leva para escola com o objetivo de afetar a essa criança enquanto trabalho teatral a gente tenta fazer isso e leva o melhor né. Então a gente construiu uma caixa cênica que tem uma iluminação que oferece para este ator em cena uma atmosfera e consequentemente para plateia e a gente oferece também dentro desse trabalho a oportunidade para tá oferecendo para esses alunos a caixa cênica e é essa experiência mesmo do teatro né.

Thais: muito bacana. Então, a outra pergunta era:  como o grupo lida com a parte política, partidária, pedagógica na atualidade?  Eu vou responder um pouquinho aqui do que lembro do Anderson pode ser?

Edmilson: sim

Thais: Na verdade ele deixa claro que vocês são uma empresa, mas que também fazem política e tem um trabalho grande voltado para a parte pedagógica nas escolas. Todos somos seres políticos, somos políticos por natureza... o Hierofantes respeita a opinião de cada componente do grupo, e nesse momento você diz: Opa eu sou esquerda! Sempre esquerda! heheh... e ele continua dizendo que enquanto empresa não pode nem deve pendenciar nem para um lado ou para o outro. Até porque sendo partidários eles ficam limitados em conseguir as coisas, etc...

Edimilson: De fato Thaís! A empresa em si eu acredito que faz política... por que a gente faz política independente da partidária, aí instituição, a arte faz política né.

Thais: e que é necessária

Edmilson: O ato de fazer cultura, e a cultura que a gente optou para levar para classe dos desfavorecidos é um ato político. Então é uma instituição que também exercita política; agora a política partidária.... Aí sim, aí tem um respeito que cada um tem a sua opção; pela política partidária ou seu segmento né. Como eu falei: eu me coloco de forma, do lado esquerdo sempre! Então assim é uma opção minha, mas cada uma tem sua opção; a instituição e o ponto de encontro da empresa não têm uma força partidária

Thais: O grupo tem alguma relação com performance? Se tem a linha de pesquisa? Memórias...tem algum nome artístico em específicos que seja referência para o grupo?

Daniela: o grupo trabalha muito com Michael chekhov, porém a gente tem tentado desenvolver no grupo técnicas próprias com laboratório dos Malditos... A gente faz vários estudos e experimentos desenvolvendo métodos próprios. Estamos a caminho de escrever um livro com essas técnicas de estudo. Mais Thais vem cá: o que você quer dizer em específico sobre performance?

Thais: então... estou também conhecendo esse mundo agora e sei que ao perguntar, se vocês fossem um grupo performático, vocês se identificariam na hora.

Diogo: Pelo que entendo da linguagem performática nós não fazemos performance, nós trabalhamos com a dramaturgia tradicional de começo, meio, de fim; e que a performance nem sempre segue essa lógica.

Anderson: já trabalhamos com teatro de rua e na rua. Que são coisas completamente diferentes.

Edimilson: eu ainda não experimentei o teatro de rua, mas gostaria.

Anderson: na verdade nessa nova formação a gente trabalha com o teatro levando a caixa cênica para o espaço escolar levando a experiência estética para as escolas...independentemente de estar ou não no teatro.... Nós conseguimos fazer isso!

Edimilson: Teatro de bolso...

(Aqui foi registrada a nova gravação feita dia 26/10/2020 com o integrante Edimilson para finalizar a entrevista de modo mais fiel possível)

Thais: o objetivo da pergunta foi pra instigar mesmo. Sim... eu cheguei a falar na aula que eu poderia não colocar essa pergunta aqui...mas falei gente eu não sei de faço: teatro, performance ou se é teatro performático.

Edimilson: O nosso foco, o nosso objetivo é o teatro. Se a gente contrai daí uma performance é mais uma ferramenta. O nosso foco é o teatro seja ele de rua ou de caixa. Se a gente constrói durante esse processo que é importante e que vai afetar a pessoa nós vamos fazer; o laboratório tem a ideia da usina.

Thais: Ficou perfeito. Na verdade, essa parte foi respondida... até ali dava pra terminar... só que eu queria que você falasse um pouco do processo do grupo. Teve uma hora, uma fala, no final da gravação. Que a Dani entrou com a ideia tal... que eu acho que é memorias ela... você a com a parte do corpo cênico em movimento e as artes marciais; ele com o lance da música e a coisa do parque...então aquilo, eu fiquei com as ideias, mas não fiquei como a fala anterior, se você puder...

Edimilson: o quê que acontece...quando a gente de fato se olhou né. Nessa nova gestão. Aí a gente começou a pensar o que cada um tem de potência para gente poder estar junto, mas cada um desenvolveu sua própria pesquisa; e essa pesquisa foi reverberando no trabalho do grupo. O meu foco é a preparação do ator eu já venho fazendo artes marciais há muito tempo e foi na arte marcial que eu encontrei. Há possibilidade de propor uma preparação, porque já existe isso, já não é nada novo, mas a partir do meu olhar. Qual seria a preparação que permitisse desde uma criança a um senhor de 80 anos, 70 anos, da melhor idade praticar. É claro que, durante essa trajetória eu posso dar mais ou não importância a essa preparação ou exaustão. A ideia não é exaustão.  Porque a exaustão, ela limita a um público específico. E então como pensar uma preparação que permite o ator está apto para atuação independente da sua idade? O Diogo ele transpira Musicalidade né então é...

Thais: ele é músico também? Não?...

Edimilson: Ele é músico! Músico brilhante, simplesmente fantástico! Então assim a gente se olhou e falou assim não tem outra, a sua cadeira é a música; é a dramaturgia musical para o espetáculo. A Dani não! Ela ficou um pouquinho, no início meio perdida, mas ela foi se percebendo no que ela gostaria enquanto processo e ela, quando ela trouxe a memória e o estudo da emoção, aí pra ela fez todo sentido e pra gente também. Porque a gente começou a ver que os campos de pesquisas, todos estavam é....alinhados em um processo maior. O Anderson no processo de dramaturgia né... ele não é dramaturgo, mas ele estuda a direção, o foco dele é direção é.… então assim, a gente se viu que: toda a pesquisa de cada um formava no final no somatório todo um processo.

Thais: fantástico. Vocês falando e eu: também quero fazer parte desse grupo... (risos)

Edimilson: e olha no início da pandemia todas as terças feiras, nós nos reunimos para estudo. Discutimos kusnet, terminamos de ler o livro do kusnet aí começamos a ler um material de ação física proposta pelo Cesário, prof. Cesário da UNB: a história do vigor... e depois desse artigo a gente começou a discutir e ler o nosso livro base que é o livro: Para o Ator do Michael chekhov, que é o nosso livro de cabeceira. Todo mundo tem que ler, todo mundo que entra no Hierofantes tem que ter: um livro e ler. Isso é uma exigência que a gente faz.

Thais: Sem contar que por exemplo: dá experiência que é isso tudo... aí eu queria que você falasse um pouquinho do parque...

Edimilson: do parque né! Então eu e Anderson a gente se conhece desde da época do Celeiro das Antas

Thais: Antológicos. Risos

Edimilson: a gente marcava como forma de manter o nosso grupo; nós éramos: o nome chamado:  filho da Anta né...que era um grupo de oficinandos que quando estavam no processo de montagem de Moby Dick. Eles tinham as oficinas de formação e nós saímos dessa oficina de formação: eu, Anderson, Patrícia, uma galera e no final esse grupo que sobrou acho que erámos sete pessoas, nós tínhamos um compromisso conosco de ir para o parque nos dias de sol trabalhar o que a gente aprendia no Celeiro das Antas. Enquanto técnica a gente ia vivenciar isso de forma lúdica mas necessitando na conexão com parque, com essa vida que estava no parque da cidade, então quando chegou agora no processo dos laboratórios do Malditos a gente acabou decidindo a ação física, mas a gente diz assim: poxa, a gente precisa voltar ir para o parque por esse trabalho que a gente está propondo no parque para todo mundo, para o cara que tá passando sabe... para o cara de Planaltina que tá andando no parque,  que tá em todos os lugares e de repente tá no parque e vê a possibilidade de fazer um exercício, por exemplo, da ação física. Umm exercício de flutuação que é do Michael chekhov. Então um jogo de cena né.  A gente oferece a preparação. E por que não essas pessoas? Elas podem carregar isso; essa experiência teatral, podem carregar para elas. Caso elas tenham interesse em se juntar ao grupo é superaberto. E se quiser, de repente, fazer parte do grupo aí a gente faz uma audição, explica o processo, como é o processo do grupo. Então é também uma forma da gente estar abrindo o grupo para renovação, porque a gente entende que a gente precisa fazer essa renovação até porque nós estamos envelhecendo.

Thais: É isso... lembra que eu fechei lá dando os parabéns para vocês porque a trajetória mostra que é um grupo aberto, não precisou de mudar, não que não posso né, até porque a gente sabe que pode mudar os nomes... mas seguir também uma linha facilita até para quem quer chegar no novo...

Edimilson: exatamente, a gente. A gente traz muito experimentar nesse aspecto. Muito na cultura japonesa de deter o pé na raiz nas origens, nas tradições, mas está com a cabeça voltada também para o futuro, para um novo. Para estar abertos. Então assim: Ao mesmo tempo em que a gente precisa manter uma herança que a gente tem do Hierofantes, antes desde o início do Humberto, e a gente respeita muito o Humberto, mas a gente também tem que olhar para o futuro que mudou muito. A questão da pós-modernidade, o pós-teatro, o teatro performático.

Thais: Gente! A gente pode parar e pensar como isso vem?  É que, vamos avaliar a década. A diferença do meu filho pra minha filha...a Internet, a tecnologia, das mudanças né? Você para e fala: caracolas, cinco anos passa em um segundo, né...antes, não, antes 5 anos chega....

Edimilson: a nossa formação foi muito lenta e agora a formação é assim: uma mudança é um estalo aí a preocupação com a tradição, a origem e o respeito da tradição, porém, por exemplo: a pandemia. O que que a pandemia provou para a gente agora? Questão de distanciamento e a mediação das mídias. E a gente se propôs a fazer o teatro no Teatro,  não! O vídeo com nossas características é teatro? Não. Não é. É vídeo, mas o que a mídia, a tecnologia tem influenciado hoje no nosso, vamos chamar assim, no nosso corpo enquanto corpo do grupo? Enquanto forma do grupo? Como o grupo pensa o teatro? Que a gente também tem uma tecnologia que interfere e afeta o nosso próprio fazer e como nós estamos sendo afetados com essa tecnologia vamos fazer com essa, essa

Thais: essa mediação né

Edimilson: exatamente essa mediação essa troca...

Thais: muito bacana. Vou encerrando por aqui e mais uma vez não tenho palavras para agradecer sua disponibilidade e a do grupo viu. Vou aceitar o convite, adorei o bate papo, mas agora vou partir para escrita meu irmão. Hoje quero terminar até as 18h e a jornada é longa...

Edimilson: sim vai lá e boa jornada pra você Thais.

Thais: Gratidão


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