Entrevista com Diego Borges - Por Pablo Magalhães
Pablo Magalhães
pablomagalhaes1996@gmail.com
Entrevista com Diego Borges
Formação
Infância e Juventude na arte | Unb | Teatro O Bando | Grotowski
- Eae Diego hoje você tem 32 anos mas já está em contato com a arte desde os 9… como foram os seus primeiros contatos?
- A maioria das pessoas na minha família eram artistas então eu não tive muita escolha haha eu comecei a trabalhar com meus tios, comecei com 9 anos a fazer cinema, eu gostei daquilo… foi um filme feito todo em família praticamente e foi super premiado deu super certo. Depois eu continuei com meu tio lá de Mato Grosso, Amauri Tangará, quando surgiu o convite pra fazer teatro uns anos depois já com 12 anos, então fui viajar o Brasil fazendo teatro profissionalmente circulando em festivais… fizemos um espetáculo chamado Rosa Pantaneiro baseado nas obras do Guimarães Rosa… eu fazia o Guimarães criança haha Aí depois teve um longa metragem do meu tio, fiz o protagonista, tinha entre 13 e 14 anos.
- Haha que legal! Bastante experiência logo nos primeiros contatos!
- Enfim, comecei com esse meu tio o Amauri, tendo esse background da família, tinha um outro tio que trabalhava na Globo, era animador da Xuxa. Eu nasci em Cerejeiras, uma cidadezinha pequena lá de Rondônia, tem 17 mil habitantes, perto da Bolívia….não é Roraima…. é Rondônia, muita gente confunde haha Comecei a viajar cedo para trabalhar e ir aos festivais mas sempre morei lá, minha mãe era professora de artes na cidade e depois que terminei o ensino médio na escola pública decidi estudar, fazer faculdade…. e naquela época quem queria estudar saía da cidade, então fui morar com meu tio lá em Mato Grosso, em Cuiabá, e entrei pra companhia de teatro dele a CIA Artes do Brasil, eu tinha 17 anos, foi nessa ocasião que eu conheci o João Brites, através do Amauri Tangará, fizemos uma espetáculo lá em Cuiabá em parceria com O Bando, de Portugal…. O João e o Amauri dirigiram juntos e eu fiz a assistência de direção deles.
- Caramba, e isso lá em Cuiabá!
- Sim! Ganhamos um prêmio Myriam Muniz na época, então colocamos o espetáculo todo dentro de um ônibus e fomos viajar pelo Brasil durante 2 meses com o João Britez inclusive. Conheci bastante o trabalho dele e fiquei curioso quanto a abordagem que ele tinha com seus atores… Eu tenho esse laço com a direção por causa desse contato com o Amauri e com o João….Depois, como no Mato Grosso também não tinha vestibular para artes cênicas, fui para Brasília, entrei na UnB, onde tive contato com grandes professores, grandes parceiros…. sempre quis pensar o teatro também como uma ferramenta revolucionária, no sentido de mudança da realidade… sempre pensei que minha função como artista seria mudar um pouco a realidade a minha volta.
- Bonito pensar assim desde jovem… A UnB também é sempre um lugar para bons vínculos.
- Ah a Unb pra mim foi uma grande mãe, eu morava ali na casa do estudante, vivia 24h por dia na UnB, no teatro… fazia estágio na UnB me voluntariava para fazer tudo no teatro, a iluminação por exemplo… fiz a iluminação de quase todas as peças da UnB na minha época, fiz mais de 30, fazia os desenhos de luz, montava, operava, ia pros festivais… E isso me envolveu mais com os professores e por um convite da professora Rita comecei a trabalhar no Teatro do Instante, eles tinham montado o grupo fazia um ano.
- “Você hoje possui um forte vínculo com um dos maiores grupo de teatro de Portugal, o teatro O Bando. Você contou de como conheceu o diretor, João Brites, e como foi seu primeiro trabalho com ele… Mas hoje você é um produtor internacional desse grupo, levando atores daqui do Brasil para fazer o curso de formação deles lá em Portugal, eu inclusive fui um destes atores… como se deu essa sua relação com O Bando?”
- Depois de ter conhecido o João em 2006 e pedir bastante pra trabalhar com ele, 4 anos depois ele me chamou pra fazer um papel em uma peça com eles lá em Portugal, a peça O Pino do Verão, um espetáculo que acontece uma vez só, no dia mais quente do ano, com um elenco gigante de 300 pessoas em cena que ocorria no pé de um castelo… fui pra lá pra ficar um mês, apenas o mês de férias da unb, mas quando cheguei lá achei incrível o lugar… para nós brasileiros era algo de outro mundo, a qualidade da produção, o dinheiro que eles tinham, os recursos, a equipe, O Bando tem uma sede, um lugar deslumbrante com um teatro próprio, algo que todo artista sonha…
- Esse inclusive é o maior sonho do meu grupo de teatro, o Grupo Momentâneo haha
- O Bando surgiu no período pós revolução em 74 e carregam isso no grupo até hoje, nos espetáculos, nos seus manifestos, é um teatro muito político e me identifiquei muito… então decidi ficar lá além do mês das férias e pra isso fiz a inscrição para o ESTC, a Escola Superior de Teatro e Cinema, onde o João também dava aula. Consegui passar e consegui aproveitar o semestre da UnB lá, foi lá inclusive que fiz meu primeiro curso de formação do bando o “Consciência do ator em cena”. Nesse período então de 6 meses fui trabalhar com eles em outras peças… fazia tudo, limpava o palco, acompanhava os estagiario, os outros curso, e fui conhecendo gente do mundo inteiro fazendo diversos curso que também passavam por lá. Outro processo importante pra mim foi quando me chamaram para fazer a produção da peça Inferno a divina comédia… foi uma experiência surreal, foi o maior espetáculo do país e fiz a produção e a assistência de direção!
- E mais pra frente surgiram as parcerias entre o Teatro do Instante e o Bando certo?
- Sim! nessa altura eu já estava fazendo o mestrado e a gente no teatro do instante já estava com 4 anos de grupo. Foi quando a Alice e a Rita m pediram para dirigir um espetáculo, foi aí que juntei a fome com a vontade de comer né haha Lá em portugal em sempre falava do Teatro do Instante, e aqui no brasil, eu falava d’O Bando para eles, eram duas companhias que eu admirava e trabalhava com eles… Já que eu iria dirigir eu queria ter O Bando junto tambem, entao fizemos um projeto e conseguimos trazer o João para dar uma oficina aqui, depois o grupo todo do Instante foi pra lá fazer a formação também…. foi quando começou a parceria entre o Instante e o Bando…. foi quando fiz minha segunda formação do “ Consciência do Ator em Cena”.... Ao todo chegamos a fazer 2 formações dessas e mais 3 espetáculos com eles, o último foi o Netos de Gungunhana, apresentado em Portugal, aqui no Brasil e também em Moçambique.
- Em meu mestrado, uma de minhas principais bases é Jerzy Grotowski, fundador e diretor do Teatro Laboratório, e Zygmunt Molik, ator e também fundador desse grupo… Em meio a essas suas viagens em busca de cursos e festivais você também teve contato com o Instituto Grotowski localizado em Wroclaw - Polônia e também com o Workcenter of Jerzy Grotowski and Thomas Richards da Itália certo?
- Eu sempre lia muito sobre, principalmente graças a Rita, o Marcus Motta, todos os professores de teoria nos apresentaram os grandes teóricos e diretores, e o Grotowski sempre me chamou muita atenção… Nessa época fiz uma oficina de teatro com uma Polonesa no Cena Contemporânea… não tinha muito a ver com o grotowski… fiz a oficina achei massa! criação a partir da consciência corporal e fisicalidade… Na época em que eu estive trabalhando em Portugal com o Bando mantive contato com essa professora polonesa que um dia me chamou pra fazer um curso com ela em Varsóvia… lá fiquei sabendo de um curso que aconteceria em Wroclaw no instituto grotowski então eu fui!... bati lá na porta, no meio da neve…
- caramba isso foi no meio do inverno!
- Sim! Foi então que um dos professores do instituto, o Jacob, abriu a porta e disse em portugues “Ah você deve ser o brasileiro” haha
- Olha que sorte!
- Eu na neve morrendo de frio, ainda bem que tinha alguém pra me salvar! acabamos nos tornando bastante amigos, fiz vários cursos com eles… e caramba minha cabeça ficou fervendo com essas experiências… Lá no instituto os pesquisadores se aprofundam em suas pesquisas em diversos lugares do mundo e voltam lá para praticar e desenvolver… O jacob pesquisava sobre capoeira em cena! Com isso consegui trazer ele aqui pro Brasil pra dar alguns cursos!... Após essa época eu fui fazer um curso na Escócia, consegui uma bolsa pela FAP, fui para o festival Fringe em Edimburgo, um mês de festival… o festival é foda, é o maior do mundo, são 300 a 400 espetáculos por dia! tudo vira palco, porque a cidade é pequena, então bares, restaurantes, igrejas, tudo vira palco!!
- Olha que incrível, outro nível de relação social com a cultura do teatro.
- Lá eu vi que teria um espetáculo do Workcenter do Grotowski e Thomas Richards, fui ver a peça… durante uma cena um dos atores jogou comigo!... quando acabou o espetáculo fui tentar conhecer o Thomas, afinal ja estava la mas nunca havia visto nem sequer foto dele… de repente me falam “ah ele era aquele ator que estava contracenando com você…” haha
- Olha só que bom que você não sabia antes né haha
- Sim! Mas ele foi super gente boa e me convidou a fazer o curso dele na Itália, em Pontedera, último lugar onde Grotowski realizava suas práticas… E ai eu consegui ir pra lá e fiquei um mês! Trabalhamos no teatro da cidade e na sede deles lá… Foi o ápice de todas as minhas ideias quanto a minha pesquisa… foi incrível… foi um mês de trabalho 24h… um mês assim parecem 6 meses… conheci gente do mundo inteiro, muitos amigos… E foi esse meu contato com o legado do Grotowski, depois dessas experiências eu falei pra mim “quero terminar o mestrado e criar um workshop para compartilhar tudo isso que vivi nesses anos”
First Body
Mestrado | O Bando & Grotowski | Internacionalização
- Que bom que você falou a respeito do First Body e do seu mestrado… Falei mais cedo a respeito do meu mestrado… Me dá uma certa curiosidade, por ser um jovem pesquisador, em saber como foi o seu processo como pesquisador em seu mestrado… como foi no início? quais surpresas teve e o que ele se tornou?
- Tudo foi se transformando né, eu entrei no mestrado com outra temática, e por orientação da Alice a gente foi aprimorando o projeto e acabamos falando sobre o trabalho do ator… Inicialmente no meu projeto eu não queria falar sobre o trabalho do ator… todo mundo parece querer falar sobre o trabalho do ator haha só que eu encontrei uma perspectiva muito singular que é o trabalho d’O bando… que tem uma singularidade que só eles tem de nomenclaturas, de exercícios específicos, de conceitos específicos criados por eles para poderem se entender… então eu encontrei no bando esse lugar onde me reconheci como ator criador, isso fazia sentido pra mim… Não é fácil ser um pesquisador, tem que estudar muito, você passa por muita pressão, eu acho que é uma fase difícil, pra mim não foi água com açúcar, foi uma guerra! mas foi bom! os professores estão em prol do seu desenvolvimento… é diferente de uma graduação, de uma monografia, você tem que entrar nos poros da sua pesquisa… acho que foi onde aprendi a ser um pesquisador… Foi riquíssimo, eu fiz o TEAC e dei aula sozinho durante o semestre todo, queria dar o First Body, foi a primeira vez que eu fiz, a turma foi genial, hoje são todos meus amigos… Lupe, Zé Reis, Bruna Martini, Helena Miranda, Jordana… os primeiros alunos do first, as cobaias haha
- Acho bonito perceber como o seu mestrado e sua pesquisa tem muito a ver com a sua trajetória… Muito deste workshop First Body que veio do seu mestrado parece estar baseado nos cursos que você fez em Portugal e na Polônia… Quais pontos de encontro você percebeu, ou até mesmo criou, entre as práticas de Grotowski e Brites? Eu sinto que o First Body parece ser, de alguma forma, um ponto de convergência entre esses dois autores.
- As experiências foram bem diferentes… Na polônia eram dois jovens pesquisadores com 30 e poucos anos, eles também não trabalharam diretamente com Grotowski e sim com atores que tiveram contato com ele… Então foi uma experiência bacana pois eles usam aquele lugar como um laboratório mesmo, de pesquisa, eles abrem semanalmente workshops lá para experimentar coisas e por isso os preços são tão baratos… eu senti um trabalho bastante físico vindo deles, visceral, energético, trabalhávamos muito com consciência corporal, com cansaço, associavam muito com artes marciais, a gente lutava mesmo, tínhamos facas, bastões… foram muitos jogos para trabalhar reflexo, atenção, equilíbrio e desequilíbrio, voz, vários exercícios para voz como cantar, gritar, sussurrar… entender o mecanismo físico da voz, o impulso que gera a voz, como a gente trabalha o impulso na voz né?
- Hmm excelente pergunta! haha
- Aí na Itália era outra relação… eles têm um coletivo que faz parte do workcenter, são 10 ou 12 pessoas hoje, e eles moram naquele lugar, moram em uma chácara todos juntos e tem também um lugar de treinamento… eles treinam todos os dias de manhã com o Thomas, todos juntos… e a tarde eles fazem outras coisas relacionadas a criação e produção… Essas manhãs são as manha de canto e eles fazem isso sempre… a gente que estava lá fazendo o curso, não estávamos fazendo um curso mas sim acompanhando eles, fazendo o trabalho deles…
- Entendo… entrando em um grupo que já segue aquilo a muito tempo
- Sim! Eles não paravam o que estavam fazendo para dar o curso, era mais um dia normal de trabalho para eles mas nós estávamos ali acompanhando e se inserindo, claro que rolava esse lugar da pedagogia… mas nunca nada era explicado… as coisas eram vividas, experienciadas… por exemplo os cantos não são traduzidos, dados, escritos… eles cantam pra entender a vibração, entender a ressonância da voz no corpo, a voz enquanto corpo… então a gente aprendia meio que por osmose ali e fomos absorvendo mesmo, no fim do mês estávamos cantando todas aquelas músicas difíceis… então eram manhãs de canto, eram cantos afro caribenhos, poloneses, de vários lugares… O treinamento era como se fosse uma performance sempre… íamos para uma sala e pediam para que colocássemos roupas formais… era como uma apresentação… e começamos a desenvolver movimentações no espaço a partir das vibrações da música… sempre tinha o líder e o coro, era como um grande cardume de pessoas… a tarde trabalhamos com um tutor uma cena para posteriormente apresentar ao Thomas tanto na metade do mês quanto no final… Ensaiamos muito, era uma grande pressão pois o Thomas ia ver… e ele é uma pessoa bem difícil haha considerado pelos atores uma espécie de semideus então todos têm muito medo dele… ele tinha uma alquimia… alguém apresentava uma cena ruim ele destruía a pessoa “o que você está fazendo aqui? estou perdendo meu tempo com você?... depois ele pedia pra pessoa fazer de novo e de novo e de novo… e em minutos a cena estava magnífica… arrepio só de lembrar!
- Imagino como deve ser difícil ouvir isso de um ídolo mas ao mesmo tempo muito gratificante quando dá certo…
- Sim! Tinha de tudo, até gente dando soco na parede de raiva haha… Mas lá no curso veio isso do canto muito forte… como eles são potentes né? tanto em treinamento quanto na cena… E agora voltando a sua pergunta, como fiz esse link… No bando a gente tinha um trabalho muito peculiar de criação de personagem e criação de cena… você passou por isso… era algo muito legal e muito específico… às vezes era “esquece o aquecimento e entra em cena”... era muito dicotômico, eles trabalham com o corpo com as sensações concretas mas não tinha algo voltado ao entendimento do corpo, uma consciência corporal mais aguçada… era uma coisa mais conceitual do que prático e isso me fazia falta porque eu acho que aí cria algumas lacunas, o conceito se torna mais difícil pois parece estar na cabeça do diretor, do João… Então eu fui descobrindo que no trabalho da Polônia e da Itália tem muito esse lugar de preparar essa consciência do corpo sensível, trabalhar essas habilidades psicofísicas, trabalhar agilidade, trabalhar respiração, trabalhar precisam, trabalhar olhar, trabalhar canto… então é muito prático o trabalho em cima disso, acaba não sendo o foco deles o trabalho conceitual como é no Bando em Portugal… Mas é isso eu não uso a técnica d’O Bando, não uso a de Grotowski, eu me inspiro nisso, eu uso como referência isso, afinal é o meu trabalho é a minha maneira de ver como usar a ferramenta x, sempre dou a referência claro mas é outra abordagem, outra maneira de lidar o ator… E ao longo da vida tive vários diretores carrascos e isso me anulava cada vez mais… No First Body busco a filosofia de ensinar atores criadores, artistas, que criam e não só obedece, que tem aquela irmandade revolucionária presente nO Bando… Tento acabar com essa hierarquia de Manda e obedece… não estou só ensinando, também estou aprendendo.
- Dentro de suas viagens ao redor do mundo; seja para fazer cursos, seja para apresentar peças, ou até mesmo para consumo de cultura local, você costuma dar seu workshop por onde passa o que acabou agregando ao First Body um caráter bastante internacional… Como você sente isso no curso? Como reverbera na experiência?
- Por que que o nome é em inglês? Sempre me perguntam isso né… no início chamei de primeiro corpo… mas quando fui dar o curso na Alemanha, em Berlim, eu vi o trabalho enorme pra traduzir tudo o que eu tinha feito, de texto, conceito, nome do curso… toda vez que eu fosse dar a oficina seria esse trabalho… aí decidi manter o nome em inglês por isso, para criar uma marca… E meu foco é conseguir compartilhar esse curso pra mais lugares possíveis… Porque é isso né, estamos estudando o corpo, o ser humano né, como em diferentes culturas a gente consegue fazer com que esse trabalho ressoe… é gratificante pensar que na Lituânia fez sentido, em Nova York fez sentido, em Moçambique fez sentido… E no fundo é muito simples, a gente não esta reinventando a roda… estamos só ajudando a olhar… Não estamos inventando a roda… é mais simples e por isso é tão potente!
Meu Mestrado
Trilha Sonora do First Body | Cantos Ritualísticos | O Som como Impulso
- Muitos que fizeram o curso, além de muito falarem sobre o caráter imersivo, sempre pontuam também a qualidade da trilha sonora do curso, na forma como ela se encaixa com os exercícios propostos… como é o trabalho com o som, a escuta durante o curso?
- Acho que essa pesquisa sonora também foi feita muito baseado nessa relação internacional, gosto muito de pesquisar o que os outros artistas escutam nesses outros países quando estão em trabalho… então tem muita música que peguei emprestado, roubei mesmo haha… Então tem músicas em várias línguas em várias frequências… O trabalho da música no workshop é criar uma ambientação capaz de gerar envolvimento do performance… de maneira simples, serve para gerar sentimento, relação, tentar criar um outro espaço… nem sempre tem música, também trabalhamos com silêncio… a música também faz com que a gente absorva aquele momento presente para criar uma nova atmosfera… Tem momentos práticos também da música como ritmo, como impulsionador… Criei 3 playlists; a do relaxamento para você respirar, se conectar, meditar e realizar exercícios mais contemplativos; a playlist da criação, que é uma playlist de inspiração, que gera emoção de alguma maneiras, com timbres que te afetam; e tem a playlist do ritmo, essa é gogo, bora!
- Impulso! Trabalho! Go! haha… Uma das práticas mais memoráveis do curso, além do trabalho com as vendas para chegar nas sensações concretas e os bastões para se alcançar o impulso, é o trabalho com os cantos ritualísticos… O próprio Grotowski trabalhou muito tempo com esse tipo de metodologia, foi essa também uma inspiração? Como os cantos reverberam em seus alunos
- A voz no first é isso, é a gente tirar esses bloqueios… A gente cresce com as pessoas falando “não pode falar assim, fala baixo, menos barulho, você não sabe, silêncio!”... a gente também faz ruídos, sons estranhos, mas fomos proibidos de fazer isso por ser “feio” e “deselegante”... eu acho isso desumano, então estamos buscando essa voz que é também movimento… e é fundamental quando a gente descobre a potência que tem na voz conectada como corpo… a gente pode trabalhar as coisas isoladas, mas quando encontramos essa conexão voz, corpo natureza a qualidade do ator passa a ser muito potente.
- Exatamente! Tudo conectado e proveniente do impulso!
- Os cantos ritualísticos no first eu nao consigo nem ver como algo complementar e sim como parte fundamental do trabalho para poder criar consciência física… afinal é isso a gente não pode separar a voz do corpo… então compreender a voz, suas ressonância e cavidade é também conhecer-se… o que estamos buscando é esse lugar primal que nos foi tirado… compreender como eu me conecto com esses cantos… eles nao tem um significado específico, não é sobre como eles geram emoção a partir da letra… não é semântico, é vibratório, é sensitivo… temos que nos conectar com isso… tenho expeirmentado cada vez mais os cantos para se criar consciência e criar a partir disso… os cantos tem uma beleza natural e estão ligados a esses ritos… gosto dos ritos acho que é algo que estamos cada vez mais perdendo… então acho que o canto também cria outro espaço outro tempo, a gente consegue criar a partir dessa ressonância dessa vibração.
- Por fim gostaria de fazer uma pergunta final…. na realidade a pergunta mais importante para a minha pesquisa nessa entrevista: Levando em consideração o que conversamos a respeito do trabalho de Grotowski e em como ele inspirou o trabalho com o impulso e com os cantos ritualísticos dentro do First Body… Você então acredita no som, seja ele voz, sonoplastia ou música, como uma forma de alcançar esse “impulso” que Grotowski tanto falava? Você sentiu ou presenciou concretamente isso durante algum First Body
- Eu acho que o trabalho com os cantos ele é talvez a forma mais clara de você compreender o que são esse impulsos no corpo… o impulso geralmente está relacionado com a coluna, com algo interno, que nasce internamente… Eu acho que tudo é como você acessa isso, se a música externa te ajuda a acessar esse lugar sensível, acho possível!... mas acho que precisamos trabalhar uma sensibilidade bem aguçada para poder trabalhar do exterior para o interior… então talvez essa música que é corpo, que vem do corpo, que o corpo produz, esse som, essa vibração talvez seja um pouco mais clara para poder acessar esses lugares… eu entendo o impulso como uma vibração, uma vibração primária, um start, um estalar, algo que nasce desse eixo… No fim tudo o que é físico que afeta o corpo, no caso música é físico, pode afetar o ator… Tem que se desenvolver um corpo sensível, perceptível para você poder usar isso de forma consciente… talvez já aconteça de forma inconsciente, talvez a música já traga um impulsionamento… de fato é complexo
- Perfeito! Que bom que é complexo pois é exatamente sobre isso que vou me debruçar em meu mestrado! Chegamos ao fim e só tenho um grande obrigado a te dar!!
- Valeu Pablêra estamos juntos! Quero você aprofundando isso aí! To feliz que esteja estudando isso!
FOTOS DO WORKSHOP FIRST BODY




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