AUTOAPRESENTAÇÃO - Jordana Mascarenhas


 

Nome e Contato:

Jordana Mascarenhas - jmascarenhas656@gmail.com - (61) 981587173

Lattes: http://lattes.cnpq.br/7671431562980461


Background em arte e/ou pesquisa em artes:

Jordana Mascarenhas é atriz, diretora, auto gestora e pesquisadora de teatro, atualmente tem seus estudos voltados para processos composicionais com foco no campo de afetos, na composição e acesso a mitologias pessoais, para a construção de dramaturgias, perpassando os campos de memória, vivência e experiência, mobilizados no tempo, no espaço e no encontro. Dramaturga intertextual de elementos vulgares de paisagens e vivências urbanas contemporâneas. É graduada em Letras Português e Artes Cênicas na Universidade de Brasília e Mestranda em Artes Cênicas pela mesma instituição. Fundou a Companhia Dois Tempos de teatro em 2008, onde desenvolve seus trabalhos artísticos e como pesquisadora. 

Qual o seu projeto de pesquisa atual ou o que deseja estudar:

Projeto: A Relação entre a Espectadora Emancipada e a Atriz Tocável
Linha de Pesquisa: Processos Composicionais para a Cena
Orientadora: Alice Stefânia

           Na pesquisa que pretendo realizar, meu desejo é investigar os mecanismos presentes na relação entre os processos de atuação e expectação. Tal interesse surgiu em 2014, no processo de criação do espetáculo Inominável, cuja criação, idealização e autoria divido com o ator e diretor Similião Aurélio e do qual participo como atriz e diretora. O experimento teve sua primeira versão aberta ao público em novembro de 2015, sendo posteriormente selecionado para integrar a mostra local do 18º Festival Internacional de Teatro de Brasília Cena Contemporânea, em 2017, e a Mostra de Teatro do Fundão, em 2018. Sobre a experiência, escrevi o artigo O Trabalho do Ator dos Afetos à Criação[1], depois a monografia CORPOÉTICO – Por uma Ética da Cena Construída em Afetos[2] e, em seguida, o artigo Vivência, Memória e Experiência do Inominável[3] e Inominável: cena e encontro como zona de afetos[4].

Essa experiência foi orientada por princípios éticos que identifiquei tanto no âmbito da criação quanto no momento do compartilhamento com o público. No que diz respeito aos processos criativos, o engajamento ético se realiza na busca por uma dramaturgia tecida nas fricções entre a mitologia pessoal de cada atriz[5], projetada, expressada e/ou desdobrada em elementos ficcionais; na relação de imersão e criação com os ambientes habitados, espaços propiciadores de forte contato com a natureza; e, ainda, na possibilidade de auto investigação, favorecida pelo deslocamento dos hábitos do dia-a-dia, na medida em que cada versão da obra foi criada a partir de uma residência imersiva em ambientes não naturalizados pelas atuantes.

O processo de recepção dispõe de uma única atriz, interagindo com uma única espectadora por vez, em cada cena. Essa condição uma-para-uma fomenta a construção conjunta de uma dramaturgia do encontro, caracterizando quase que uma contracena. São, ao todo, doze cenas, acontecendo simultaneamente e divididas em três circuitos. Desde o princípio, a proposta foi alcançar um resultado que valorizasse o encontro e o sujeito. A expectativa foi de propiciar que o público, além de assistir, vivenciar e experienciar, também pudesse construir o espetáculo juntamente com as artistas. Para o ator e pesquisador do LUME Renato Ferracini:


Gerar vivências está mais para deixar-se afetar do que agir. (2013, p. 123).

Preparar-se é parar, ouvir, deixar-se impregnar pelo espaço. Deixar-se penetrar pelo outro e pelo mundo. Ser afetado por você mesmo. Experienciar é gerar vivências nas micro percepções de espaço-tempo e nas micro relações com o outro. (Id., p. 123).

 

Nesse caso, a atriz lança-se ao jogo e à criação de dramaturgias juntamente com a espectadora, diferenciando-se apenas; pois a atriz parte de uma ideia pré-concebida, programada anteriormente, partindo do conceito de programa trazido por Eleonora Fabião (2008). “Uma pré-dramaturgia, pré-condição de ação cênica como diz a autora” (2010, p. 322). Retomo aqui o artigo que escrevi em contexto de iniciação científica, pois é algo que já venho pesquisando desde então. Dessa forma, aproveito o conhecimento adquirido e observado durante essa pesquisa anterior para dar continuidade à pesquisa que pretendo desenvolver no mestrado.

Essa pré-dramaturgia, em contato com a dramaturgia desenvolvida junto ao encontro com a espectadora em cena, resultará na criação de uma terceira dramaturgia, um entrelugar que constitui e singulariza o experimento.[6]

O compartilhamento confessional desses campos míticos, memoriais e de afetos provocaram em mim, enquanto atriz, deslocamentos tanto físicos quanto subjetivos e afetivos, por terem sido suscitados em um lugar distante do meu cotidiano. As vivências de que participamos na chácara fomentaram espaço-tempo de presentificação, abertura sensorial, desautomatização e sensibilização, levando-me a outras criações distintas das experiências habituais, advindas também desse contato mais direto com o público. [7]

A partir dessa experiência, chego ao que Jacques Ranciére (2012) chama de “espectador emancipado”. No processo de criação, supomos, enquanto artistas, quais metáforas serão lidas e quais leituras serão acessadas e supomos também em que partes do espetáculo a espectadora irá rir ou chorar, e ela vai se tornando uma presença abstrata até a chegada da apresentação e do momento de primeiro contato com o público. Na estrutura do espetáculo Inominável, foi proposto um esquema de trabalho outro, em que a atriz propõe o “programa”, mas que está sujeito a ser rasgado pela espectadora.

Em resposta a uma espectadora emancipada, penso que exista uma atriz tocável, no sentido afetivo, de atravessamento e no sentido de uma porosidade que também é físico, pela proximidade. A emancipação da espectadora destitui a intocabilidade da atriz e revê a relação palco-plateia, na qual a atriz detém todas as vantagens do jogo; isto é, de saber quais são as regras, as falas, o que vai acontecer, quando mudará a luz e quais são as marcas em cena. Sendo assim, a atriz estabelece uma pré-dramaturgia que pode ser reconstruída pela espectadora.

Nesse quadro, quais são as estratégias para pensar essa espectadora? Que espectadora é essa? Nesse sentido, como se concretiza a transformação da ideia de espectadora? Como seria o treinamento dessa atriz que se encontra com a espectadora em território quase equânime? É possível treinar a tocabilidade da atriz? Quais atravessamentos são esses que a experiência propõe? Entendo que, na contemporaneidade, exista uma transformação em como e o lugar da espectadora é suposto. Matteo Bonfitto (2006) nos provoca a pensar sobre o que é um “ator compositor”. A partir disso, provoco-me a pensar: é possível existir uma espectadora compositora?


        Busco uma possibilidade de investigação dessas ideias, procedimentos, posicionamentos e relações, advindas desses processos artísticos que se esboçam dentro de uma abordagem cênica, em que atrizes e espectadoras se encontram em território de ação assistida. Segundo esse modelo, o público assiste à atriz e a atriz assiste ao público, não somente no sentido de olhar, mas também no sentido de dar assistência, dentro de um livre campo imaginário de criação.


[1]  Artigo escrito em contexto de iniciação científica (2016), orientado Professora Dra. Alice Stefânia Curi.

[2] Trabalho de conclusão do curso de Artes Cênicas (2019), na Universidade de Brasília - UnB, orientado pela Professora Dra. Alice Stefânia Curi.

[3] Artigo escrito em cooautoria com a Professora Dra. Alice Stefânia Curi, aceito para publicação pela revista do Centro Universitário de Belas Artes de São Paulo - Arte 21 (2019).

[4] Artigo escrito em cooautoria com a Professora Dra. Alice Stefânia Curi, publicado pela revista Conceição | Conception (2019)

[5] Opto neste projeto por substituir os termos “ator” e “espectador” por “atriz” e “espectadora” como sujeito determinado de qualquer gênero (gênero neutro) a fim de trazer à marcação gramatical feminina um aspecto de neutralidade, assim como acontece na marcação gramatical quando o gênero é masculino, na Língua Portuguesa. Esta substituição traz o substantivo no feminino para referir-se ao todo por questões de representatividade, uma vez que é escrito por uma mulher.

[6] Notas do artigo “O Trabalho do Ator dos Afetos à Criação”, desenvolvido em contexto de iniciação científica.

[7] Notas do artigo “O Trabalho do Ator dos Afetos à Criação”, desenvolvido em contexto de iniciação científica



 
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